Todo começo de ano é parecido, rankings das ações que mais pagaram dividendos no ano anterior são divulgados e os papéis que mais pagadores passam a ser buscados para composição das carteiras.
E muitos investidores que não tinham as tais empresas se interessam em comprar para passar a receber a distribuição.
Somos muito influenciáveis pelo ambiente e pela mídia também. Quando somos expostos a esse tipo de informação também sofremos os vieses de ancoragem e disponibilidade e dessa forma, poucos investidores se esforçam em entender os motivos e o porquê dos resultados que foram apresentados pelas empresas nos rankings.
Os dividendos são uma parte do lucro gerado pela empresa que não é reinvestido na própria operação da empresa. E quando uma empresa reinveste pouco do seu lucro, qual é a sinalização?
Que é uma empresa operacionalmente madura, cujos investimentos em ativos geradores de caixa já foram feitos e que não pretende continuar a expansão dos negócios.
Isso é ruim? Não necessariamente, é uma apenas característica. Uma característica importante, que favorece muito a composição das carteiras que buscam esse perfil previdenciário e para quem quer receber rendimentos periódicos.
Mas essa mesma característica pode não beneficiar carteiras cujo interesse maior seja o de valorização, ou seja, o ganho de capital. Por quê? Porque naturalmente as empresas que reinvestem menos na própria operação devem crescer menos do que aquelas que reinvestem grande parte do seu lucro.
Embora haja uma aparente relação lógica entre grau de distribuição de dividendos e o ganho de capital esperado de um determinado ativo, existe na literatura econômico-financeira estudos que indicam que tal relação não é tão direta assim, ou não se sustenta em determinadas condições.
Alguns estudos sugerem diferentes direções para a relação entre os dividendos e os retornos de ações, como em “Dividend Yields and Expected Stock Returns” de Eugene F. Fama e Kenneth R. French, publicado no Journal of Financial Economics em 1988, onde os autores sugeriram que empresas com dividend yields mais altos tendem a apresentar retornos superiores aos do mercado ao longo do tempo.
De forma que antes de sair comprando ações de rankings de pagadoras de dividendos, entender o que faz sentido para a carteira, se há necessidade de recebimento de rendimento periódico ou o que se busca é a valorização para crescimento de patrimônio é primordial.
Sim, existem as empresas que vão continuar se valorizando e que também vão pagar bons dividendos, mas essas em geral só vão aparecer no ranking do próximo ano! Cuidado ao decidir os investimentos olhando apenas pelo retrovisor, pois o que está nos rankings já ficou para trás. As carteiras de investimentos devem ser montadas com o que espera para frente.