Logo Corecon-SP

Muitos dizem que, quanto mais próspera uma nação, maior é a desigualdade social. Mas será que isso é verdade?

Acredito no oposto: quanto maior a desigualdade, menor o crescimento econômico. Por quê?

Uma economia onde a maioria da população tem baixa renda enfrenta dificuldades para crescer de forma sustentada. O consumo interno é fraco, o investimento produtivo se torna menos atrativo e a inovação desacelera. A baixa renda, por sua vez, está diretamente ligada à falta de educação de qualidade, que historicamente nunca foi prioridade no Brasil.

Nosso país nasceu como uma colônia de exploração e manteve-se agrário por séculos. Só iniciou um verdadeiro processo de industrialização no governo de Getúlio Vargas. Mesmo assim, as elites econômicas sempre resistiram a mudanças estruturais. O Barão de Mauá tentou modernizar o Brasil no século XIX, com o apoio de Dom Pedro II, mas foi barrado por uma aristocracia rural que não via interesse em transformar a economia nacional. O resultado? Uma industrialização tardia e interrompida, que nunca conseguiu romper com a desigualdade de origem.

Quando o Brasil finalmente se consolidava como um polo industrial na América Latina, veio a onda neoliberal dos anos 1990, promovendo a abertura econômica sem um plano estruturado de fortalecimento da indústria nacional. Privatizamos parte da nossa indústria pesada e reduzimos políticas de incentivo à produção interna sem garantir a transição para um modelo mais competitivo.

O discurso da época defendia que era mais eficiente importar do que produzir localmente, mas essa lógica ignorou o impacto na estrutura produtiva do país. Empresas nacionais que demonstravam capacidade de inovação, como a Gurgel e a Gradiente, foram sufocadas pela concorrência externa sem políticas para torná-las mais competitivas. A Gurgel, por exemplo, desenvolvia veículos elétricos no Brasil na década de 1970, mas, sem apoio governamental e financiamento adequado, não sobreviveu.

A desindustrialização não é apenas um problema econômico — ela também alimenta a desigualdade. Sem uma base produtiva forte, os empregos qualificados desaparecem, os salários estagnam e o país se torna cada vez mais dependente de setores de baixa produtividade.

A participação da indústria de transformação no PIB brasileiro caiu de 35% nos anos 1980 para cerca de 11% em 2023, evidenciando o encolhimento do setor e sua perda de relevância na economia.

Enquanto o Brasil encolhia sua indústria, a Coreia do Sul seguiu o caminho oposto. Na década de 1960, seu PIB per capita era inferior ao brasileiro. Hoje, a indústria representa cerca de 27% do PIB sul-coreano, e o país tornou-se um líder em tecnologia e inovação, com empresas como Samsung, Hyundai e LG.

No Brasil, o setor bancário crescia e, por um tempo, manteve uma certa diversificação. Isso era positivo, pois a concorrência fortalece o mercado e beneficia o consumidor. Mas, hoje, três grandes bancos dominam o mercado, restringindo o acesso ao crédito e encarecendo o custo financeiro para empresas e consumidores. Em vez de fomentar o crescimento, o sistema financeiro tornou-se um entrave ao desenvolvimento.

O resultado? Uma desindustrialização precoce, agravada por déficits em inovação e qualificação da mão de obra. Enquanto abríamos nossa economia sem fortalecer nossas bases produtivas, países como a China protegiam setores estratégicos e investiam massivamente em educação, tecnologia e planejamento econômico. O Brasil perdeu o bonde da história ao adotar um modelo que ampliou a desigualdade e comprometeu seu crescimento.

A pergunta que fica é: podemos reverter esse cenário ou continuaremos reféns das decisões do passado?

O Agronegócio Não é Suficiente

Não quero falar sobre a obviedade do dia — ou seja, a taxa de juros elevada — nem sobre nosso agronegócio, que ainda se mantém como um pilar de sustentabilidade da economia.

O agronegócio é, sim, um setor fundamental, mas sem uma base industrial e tecnológica, o país se torna vulnerável às oscilações do mercado global. Aqui, o Brasil deu certo, mas esse crescimento não aconteceu pelas mãos dos “coronéis do atraso”, e sim pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), criada em 1973 para desenvolver tecnologias e soluções inovadoras para o setor.

O Brasil mostrou que pode inovar, e a Embrapa é a prova disso. Além dela, temos exemplos como a Embraer, privatizada em 1994, e a Avibras, empresa privada fundada por alunos do ITA e referência mundial no setor bélico. No entanto, a Avibras enfrenta dificuldades e pode ser vendida para a empresa saudita Black Storm Military Industries.

A França protege a Dassault (fabricante dos caças Rafale), e os EUA investem pesado na Lockheed Martin. E o Brasil? Mais uma vez, entregamos nosso ouro e recebemos espelhos.

1. Educação: A Base de Tudo

Precisamos elevar os níveis da nossa educação. A OCDE revelou que o Brasil ficou na posição 44 do ranking global, atrás de Uruguai, Colômbia e Peru. Ou seja, estamos entre os 12 piores do mundo.

Mas existe uma contradição: o curso de Medicina da USP é o melhor da América Latina e o quarto melhor do Hemisfério Sul, atrás apenas de três universidades australianas.

Segundo o QS World University Rankings 2025, 35 universidades brasileiras estão entre as melhores do mundo, sendo 28 públicas e 7 privadas (seis da rede PUC).

A desigualdade começa no ensino fundamental e se consolida aqui. A pergunta é: por que não podemos replicar esse modelo de excelência em larga escala?

2. Renda: O Círculo Vicioso da Pobreza

Segundo o DIEESE, a renda mínima para um brasileiro sanar suas necessidades básicas em fevereiro de 2025 seria R$ 6.996,36. No entanto, 60% da população ganha cerca de R$ 3.150,00, menos da metade desse valor.

Além disso, um funcionário que recebe R$ 3.500,00 custa R$ 4.977,78 ao empregador, devido à carga tributária.

Uma solução seria reduzir os impostos sobre a folha de pagamento e garantir que essa economia seja repassada diretamente ao trabalhador.

Sem uma população com renda mais alta, o consumo interno continua fraco e o crescimento se torna limitado.

Nosso PIB per capita é de US$ 9.330,00, enquanto a Rússia — um país agrário e envolvido em uma guerra — tem US$ 10.421,00. Já a França, mesmo em crise, mantém US$ 38.976,00.

Se quisermos crescer, precisamos fortalecer nosso mercado interno. Ele será o verdadeiro motor do nosso desenvolvimento.

Conclusão: O Futuro Está em Nossas Mãos

O Brasil pode continuar exportando soja, minério e talentos, ou pode aprender com sua própria história e construir um futuro onde inovação, crescimento e igualdade caminham juntos.

A escolha está diante de nós. Vamos repetir os erros do passado ou finalmente mudar o rumo da nossa economia?