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O novo pobre brasileiro não é mais aquele cidadão que mora nas periferias e tem baixa escolaridade.

Hoje, a pobreza já alcançou a classe média. Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, mais de 120 mil alunos migraram da educação privada para a pública nos últimos cinco anos, segundo a Secretaria Estadual de Educação.

Poderíamos imaginar que houve uma evolução na qualidade do ensino público. Infelizmente, o motivo foi a falta de recursos — meu amado leitor.

Estamos em 2025, e muitas famílias ainda não se recuperaram economicamente da pandemia. Demissões em massa e o fechamento de inúmeras empresas, sobretudo de pequeno e médio porte, levaram a cortes profundos nos orçamentos domésticos. Como alternativa, muitos brasileiros recorreram a trabalhos por aplicativos de transporte e entrega, que deveriam representar uma renda complementar, mas se tornaram a principal fonte de sustento.

Para além da pandemia, houve uma mudança no arcabouço da política econômica. O governo precisa arrecadar mais para equilibrar as contas públicas, mas evita discutir cortes estruturais de gastos. O resultado tem sido uma carga tributária sufocante.

Fala-se muito em justiça social. Na prática, porém, quem paga essa conta é a população em geral, especialmente a classe média, que sente diretamente os efeitos da corrosão do poder de compra.

Tenho dificuldade em aceitar que uma pessoa ou família com renda entre R$ 8.500,00 e R$ 25.000,00 seja considerada “classe média”, quando o próprio DIEESE aponta que o salário mínimo ideal para uma família suprir suas necessidades básicas seria em torno de R$ 7.000,00.

Para fins comparativos, o salário médio na Espanha é de € 1.323, o equivalente a cerca de R$ 8.480,00, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE).

Talvez uma boa saída para enfrentar o chamado “Custo Brasil” seja, antes de mais nada, o corte de gastos públicos. Ainda que o impacto fiscal direto não seja bilionário, o efeito simbólico é poderoso. Um corte de 20% a 30% nos cargos comissionados da União, auxílios financeiros e reajustes automáticos de salários demonstraria compromisso com a austeridade.

Vale lembrar que o reajuste de salário de um parlamentar tem efeito cascata sobre os entes subnacionais, pressionando as contas públicas de estados e municípios.

Isto revela que o Brasil é, de fato, um país de pobres. E quando falamos em baixa renda, devemos considerar também o fator inflacionário que corrói continuamente o poder de compra da população.

Não se faz justiça social por meio do aumento de impostos em uma economia de renda baixa.

Em uma economia que tributa o consumo em 32,32%, com incidência cumulativa e efeitos regressivos, há severas limitações ao crescimento sustentável. A cobrança em cascata eleva os custos de produção e restringe o poder de compra da população, comprometendo a eficiência econômica e aprofundando a desigualdade social.

A cada elevação na carga tributária, há reflexos inflacionários, pois o aumento de custos é repassado integralmente ao consumidor final. O que se propõe como justiça social, muitas vezes, acaba por perpetuar as desigualdades que deveria corrigir.

Se quisermos reduzir desigualdades reais, é necessário reequilibrar o sistema fiscal, sinalizar compromisso com a responsabilidade e dialogar com o setor produtivo. Nenhum empresário investirá ou ampliará sua operação em um país com risco elevado e taxa básica de juros em 15%.

Reduzir tributos sobre itens essenciais, como combustíveis, também pode gerar efeito positivo. A gasolina em São Paulo, por exemplo, custa cerca de R$ 6,00, mesmo com o litro saindo da distribuidora por R$ 2,85 — reflexo de uma carga tributária de aproximadamente 34%. A redução desse peso seria sentida diretamente no bolso do trabalhador e poderia impactar positivamente nos índices de inflação.

Por fim, é imperativo construir um ambiente com estabilidade jurídica e segurança institucional, para que o país possa, enfim, retomar uma trajetória de crescimento com inclusão e equilíbrio fiscal.