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Adam Smith nos ensinou que existe uma “mão invisível” que controla os mercados, regulando preços, demanda e oferta.
A ideia central era que, se deixados livres, os agentes econômicos agiriam em benefício próprio e, no processo, promoveriam o bem-estar coletivo — sem a necessidade de intervenção estatal.

Mas será que essa mão é mesmo invisível?

Ao longo da história, vimos diversos exemplos de intervenção direta ou indireta dos Estados nacionais moldando os rumos da economia. A grande crise de 1929, por exemplo, levou à ascensão do pensamento de John Maynard Keynes, para quem o Estado deve agir em momentos de colapso do mercado — criando demanda, oferecendo crédito, investindo em infraestrutura.

Essa lógica é aplicada até hoje.

Na União Soviética, embora com viés autoritário e planejamento centralizado, havia um esforço claro de controlar a economia. Talvez tenha sido justamente o excesso de regulação e falta de liberdade econômica que colaborou para sua derrocada — somado a fatores políticos, geopolíticos e sociais.

Do outro lado, no capitalismo, vemos a mão invisível em ação, mas não sem “dedos visíveis” do Estado. No Brasil, os programas sociais são exemplo disso. Durante o primeiro mandato de Lula, a ampliação do Bolsa Família levou recursos a regiões historicamente negligenciadas — estimulando consumo local, geração de emprego e crescimento econômico em diversas cidades do Norte e Nordeste.
Sim, o mercado poderia fazer isso por conta própria? Talvez, mas levaria décadas.

O economista Joseph Schumpeter, por sua vez, explicava que o capitalismo não avança de maneira linear. Ele se reinventa pela “destruição criativa” — um processo onde antigas estruturas econômicas são destruídas para dar lugar ao novo. O Estado, portanto, pode acelerar ou amortecer esse ciclo, dependendo do contexto.

Um bom exemplo é o caso da Chevrolet, nos Estados Unidos. Durante a crise de 2008, a montadora quebrou. E o governo Obama I interveio: estatizou a empresa, saneou suas finanças e, após a recuperação, devolveu-a ao mercado. Foi uma ação cirúrgica — temporária, mas decisiva para evitar o colapso da indústria automobilística americana.

A indústria automobilística é um simbolo estadunidense; essa situação nos mostra que quando é importante, mesmo os países mais liberais abandonam doutrinas clássicas, que eles nos determinam.

Hoje, quando observamos o crescimento chinês, fica difícil ignorar os fatos. A China não seguiu os manuais clássicos. Com um modelo próprio, altamente intervencionista, investiu em infraestrutura, controlou seu câmbio, protegeu sua indústria nascente e hoje é a segunda maior economia do planeta.

Os clássicos erraram? Ou nós entendemos errado?

Pois a China fez o contrário do que os manuais pregam — e despontou em crescimento econômico.

E quando Donald Trump taxa o Brasil e demais países, e exige que empresas se instalem nos EUA… Quando a União Europeia cria barreiras ao Mercosul para proteger seu agronegócio… — será mesmo que a mão invisível é tão invisível assim? Ou ela veste a luva do interesse nacional?

Afinal, como dizia Keynes, em tempos de crise, o Estado não é um problema — é parte da solução. E eu vou mais longe: o Estado deve ser parte de um projeto de crescimento nacional.