Na última semana, o Governo Federal zerou o imposto de importação de uma série de alimentos. A medida abrange itens como carne, café, azeite, açúcar, milho, óleo e biscoitos.
O corte de impostos foi celebrado por alguns setores como um alívio para o consumidor, mas será que, na prática, essa iniciativa realmente reduz os preços?
Esse corte não resolve o problema no longo prazo e vamos entender porque.
Realidade inflacionária para os pobres
De acordo com um estudo do economista André Braz, coordenador de Índices de Preços da FGV, os alimentos consomem 29% do orçamento das famílias com renda de até R$ 2.203,52. Já entre aqueles que ganham acima de R$ 22.020,22, a alimentação representa apenas 13,4%.
Esse é um problema que afeta a todos, mas principalmente os mais pobres.
Fatores que Impulsionam os Preços dos Alimentos
1. Elevação dos preços dos combustíveis:
Gasolina: preço médio passou de R$ 5,58 na última semana de 2023 para R$ 6,15 na última semana de 2024 — avanço de 10,21%.
Etanol: subiu de R$ 3,42 para R$ 4,12 no mesmo período — aumento de 20,46%.
Diesel: foi de R$ 5,86 para R$ 6,06 — alta de 3,41% no ano.
Além disso, a Petrobras reajustou em 7% o preço dos combustíveis para as distribuidoras.
2. A carga tributária pesa:
PIS/Cofins: Em 1º de janeiro de 2024, o PIS/Cofins foi reonerado para o óleo diesel A (sem adição de biodiesel) e para o biodiesel. O reajuste foi de R$ 0,3515 por litro para o diesel A e de R$ 0,1480 para o biodiesel.
ICMS: Em 1º de fevereiro de 2024, o ICMS também aumentou, com reajustes de R$ 1,3721 por litro para a gasolina e de R$ 1,0635 para o diesel e biodiesel.
3. Infraestrutura precária:
Embora o Brasil tenha grande potencial para escoar sua produção por hidrovias ou ferrovias, ainda depende de rodovias para 75% do transporte. Isso encarece os produtos e, devido às más condições das estradas, provoca desperdício, impactando diretamente o preço final ao consumidor.
4. Crise climática:
O mundo enfrenta uma grave crise climática. A escola hegemônica atribui isso à queima de combustíveis fósseis, enquanto outra corrente defende que o planeta passa por ciclos naturais de instabilidade climática. De qualquer forma, essas variações elevam os preços dos alimentos.
5. Impacto da guerra entre Ucrânia e Rússia:
O conflito afetou diretamente o mercado global de alimentos. A Ucrânia, maior exportador de óleo de girassol e terceiro maior exportador de cevada, teve sua produção interrompida. Em 2021, foi o segundo maior exportador de grãos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
Esse cenário explica a resistência da Rússia em aceitar um acordo de paz e reforça a importância da Ucrânia para o equilíbrio do mercado global.
Conclusão:
Todos esses fatores, direta ou indiretamente, impactam o preço dos alimentos no Brasil. E, mesmo com a reforma tributária isentando itens da cesta básica, ainda houve uma elevação de 14% nos preços no ano passado.
Zerar impostos, por si só, não resolve um problema que é estrutural. O custo elevado dos alimentos no Brasil é fruto de uma combinação complexa de fatores econômicos, logísticos e geopolíticos. Para garantir uma redução efetiva e sustentável dos preços, é necessário adotar uma estratégia coordenada, que vá além de medidas paliativas.
Mudar a matriz de transporte, priorizando hidrovias e ferrovias, pode ser um passo fundamental. Além disso, o uso de tecnologias que otimizem a logística e garantam eficiência no escoamento da produção pode fazer a diferença.
Se continuarmos a buscar soluções superficiais, o peso da inflação continuará sendo suportado pelos mais pobres. A verdadeira mudança exige coragem para repensar políticas públicas e eficiência na gestão de recursos.