Nos últimos dias, a Prefeitura de São Paulo vem fazendo uma verdadeira revolução no Centro, promovendo uma limpeza urbana e policiamento ostensivo. Por sua vez, o governador Tarcísio de Freitas sinaliza a ocupação definitiva da região dos Campos Elíseos, com um novo Centro Administrativo moderno, com áreas verdes e restauração histórica.
Essas ações são louváveis, pois mostram que o poder público tem interesse real na revitalização da região. Porém, não podemos esquecer que essa prática é antiga — o ex-governador Geraldo Alckmin já havia iniciado esse movimento com o Centro Integrado de Administração do Estado (CIDADE).
O desafio hoje é garantir que essas medidas não sejam apenas respostas emergenciais, mas parte de uma estratégia urbana ampla, que contemple habitação, mobilidade, cultura e inclusão social. Sem isso, corremos o risco de repetir ciclos de abandono e repressão.
A economia mudou. O motor econômico do Centro e dos grandes corredores antes era o comércio de rua. Hoje, com o avanço do e-commerce, o varejo tradicional enfrenta queda estrutural. Grandes magazines e pequenas lojas de bairro somem diante dessa nova realidade.
Projetos como o “Ruas Temáticas” valorizam vias comerciais consolidadas, como as ruas das Motos e dos Eletrônicos. O que falta é garantir segurança à região para que esses polos prosperem.
O novo Centro Administrativo dos Campos Elíseos é uma iniciativa interessante, mas não podemos criar “ilhas públicas” isoladas, como já aconteceu com o CIDADE.
O Programa Requalifica Centro oferece incentivos para atrair habitação e comércio, enquanto projetos de retrofit em prédios como o 7 de Abril e o Virgínia transformam imóveis vazios em moradias e espaços de lazer.
Segundo o Censo de 2022, 20% dos imóveis no Centro estão vazios — cerca de 58,7 mil domicílios. O Estado deveria buscar formas de viabilizar esses espaços para moradia, especialmente aqueles sem pendências judiciais, incentivando os proprietários a abrir mão dos imóveis ociosos.
Parcerias público-privadas poderiam destravar muitos desses imóveis, especialmente os que fazem parte do patrimônio com dívidas tributárias. Rever processos judiciais e criar mecanismos que troquem dívidas por usos sociais produtivos seria mais eficiente.
A região tem sido associada à gastronomia, mas esse é um setor de baixo valor agregado. Precisamos pensar além. Por que não buscar parcerias com grandes universidades, inclusive internacionais, para transformar o Centro em um polo de alta tecnologia?
Temos no Brasil empresas líderes em tecnologia de ponta, como Avibras, Helibras, Taurus e Condor, que poderiam se engajar em centros de pesquisa e desenvolvimento na região, gerando inovação e empregos qualificados.
O setor financeiro, com suas melhores práticas globais, também pode ser parceiro nessa transformação, dialogando com universidades e startups para impulsionar o desenvolvimento econômico local.
Sobre o Minhocão, a transformação em parque pode ser esteticamente atraente, mas não necessariamente gera retorno social e econômico significativo, já que em suas extremidades existem outros parques importantes, como o da Água Branca e o Augusta e no meio do trajeto, já há a Praça Marechal Deodoro, o que enfraquece o argumento de déficit de áreas verdes na região.
O Minhocão tem duas saídas: demolir ou revitalizar. Ele pode continuar servindo como elo de ligação entre o leste e o oeste, e, inspirando-se em Zurique, podemos criar espaços sob o viaduto para mercados, pequenos comércios, restaurantes, escritórios, segurança pública e serviços da Prefeitura.
Não adianta transferir órgãos públicos para o Centro e deixar outras regiões ociosas — isso lembra Moscou, onde a concentração da gestão no centro não resolveu problemas urbanos.
Por fim, um desafio nacional e econômico: a queda da natalidade no Brasil. Em 2000, as mulheres tinham em média 2,32 filhos; em 2010, 1,75; e em 2023, apenas 1,57 filho por mulher — índice abaixo do necessário para reposição populacional, o que pode comprometer o crescimento econômico futuro.
Para São Paulo não ser conduzida, e sim conduzir, é preciso que o Governo tenha a coragem que os bandeirantes tiveram no passado, e o olhar que empresários como Francisco Matarazzo tiveram num passado recente.
Revitalizar o Centro exige ousadia, planejamento e compromisso real com o desenvolvimento sustentável, para que a cidade possa, de fato, liderar seu próprio futuro.