Nos últimos tempos, a internet tem transformado vidas e criado figuras públicas que antes eram impensáveis. Hoje, é possível se tornar um “guru financeiro” sem, de fato, ser um especialista, simplesmente vendendo a ilusão de ganhos fáceis no mercado de capitais.
No entanto, a realidade desses personagens geralmente é oposta à imagem que projetam nas redes sociais.
Um exemplo clássico de marketing financeiro que nunca fez sentido para mim é a afirmação de que é melhor não comprar um imóvel e, em vez disso, investir em fundos imobiliários.
Quando analisamos as contas com mais atenção, percebemos que a ideia não se sustenta. Para que ela faça sentido, o cotista teria que procurar uma locação em bairros mais baratos do que aqueles em que deseja morar, o que acaba não atendendo à sua realidade.
Vejamos um exemplo:
Um imóvel de 33 metros quadrados, financiado pelo Minha Casa Minha Vida, na região central de São Paulo, custa cerca de R$ 200.000,00 na planta.
Já a locação desse imóvel, na mesma região, custa em média R$ 2.500,00.
Agora, se você aplicar esses R$ 200.000,00 em um fundo imobiliário, sua rentabilidade mensal seria em torno de R$ 1.600,00. Aqui surge uma contradição: o rendimento que o fundo oferece é inferior ao valor do aluguel na mesma região. Para que essa operação faça sentido, será preciso mudar para um bairro mais barato ou pagar uma diferença no aluguel para morar na mesma região. Qual é o sentido de alocar esse recurso e, ainda assim, ter que pagar uma diferença no aluguel ou mudar para um bairro mais distante?
Isso sem contar os riscos. Embora um fundo seja considerado de baixo risco, ele ainda pode ter volatilidade. O imóvel pode se desvalorizar, o inquilino pode devolver o imóvel ou não renovar o contrato, e ainda existem taxas de administração e performance que devem ser levadas em conta.
Não sou contra a indústria de fundos, nem sou sectário. Mas acredito que essa estratégia não faz sentido para quem ainda não possui, ao menos, um imóvel para moradia.
Pessoas que não estão estabilizadas financeiramente ao entrarem numa operação como essa acabam se tornando apenas mais um pagador de taxas.
Supondo que o cliente opte por morar em um bairro mais distante para que a rentabilidade caiba no orçamento, ele terá um aumento no custo com transporte e uma deterioração na qualidade de vida.
É importante lembrar que vivemos em um país com um grande número de pessoas que enfrentam dificuldades financeiras. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a renda média do brasileiro é de apenas R$ 3.137,00. Em contrapartida, o salário mínimo necessário para cobrir as necessidades básicas, de acordo com o DIEESE, é de R$ 7.156,15.
Com um cenário tão desafiador, não é de se surpreender que influenciadores ganhem cada vez mais espaço na mídia. Com isso, acabam gerando grandes lucros.
No entanto, com tanto dinheiro em mãos, esses mesmos influenciadores fazem o oposto do que pregam. Eles compram casas milionárias e gastam milhões em reformas, enquanto recomendam que seus seguidores não comprem o carro dos seus sonhos, mas acabam comprando o deles. E, no fim, ostentam acessórios e relógios caros.
A pergunta é: como ganhar dinheiro e mudar minha realidade?
Não existe milagre. Para transformar nossa realidade financeira, é necessário preparo, paciência e, acima de tudo, tempo.
Existem várias maneiras de aumentar a nossa renda. O mercado está repleto de oportunidades para todos os bolsos.
No entanto, o primeiro passo é estabelecer uma disciplina financeira em casa. Precisamos organizar nossas finanças e garantir que estamos gastando menos do que recebemos.
Às vezes, alguns cortes no orçamento já são suficientes. Depois disso, é essencial buscar formas de aumentar nossa renda.
Isso não significa, necessariamente, recorrer a soluções como trabalhar como motorista de aplicativo ou vender bolos no condomínio.
Voltar aos estudos, concluir uma graduação ou fazer uma pós-graduação são maneiras de ampliar nosso valor intelectual e, consequentemente, aumentar nosso potencial de geração de renda.
A estrada é longa, mas com austeridade fiscal, disciplina e paciência, podemos alcançar a mudança que tanto desejamos. E a sabedoria que falo aqui não está nas mãos dos influenciadores que escrevem livros de “sucesso rápido”, mas sim naqueles livros que poucos querem ler — os que exigem dedicação e paciência para serem entendidos.
Enfim, é mais fácil vender a ilusão por meio de cursos que em nada acrescentam do que realmente produzir algo que mude a vida das pessoas. A verdade é que ninguém quer mudar nada, porque uma pessoa culta não segue influenciadores.