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O Brasil sempre foi visto como um país neutro na diplomacia internacional, e essa neutralidade desempenha um papel importante nos negócios. Contudo, essa postura tem se distanciado dos nossos pares ocidentais, o que traz consequências profundas. Um exemplo claro dessa mudança é o surgimento do BRICS, que reflete uma transformação que começou em 2009, quando a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil.

É fundamental lembrar que tanto a China quanto os Estados Unidos buscam apenas benefícios próprios em suas relações comerciais, e raramente essas parcerias favorecem diretamente o Brasil. Hoje, cerca de 33% das exportações brasileiras são destinadas à China. Isso pode parecer positivo, mas, na verdade, nos tornamos dependentes daquela economia.

Além disso, o que vendemos para os chineses? Commodities. Em troca, importamos produtos de alta tecnologia, como carros elétricos, computadores e smartphones. Esse tipo de comércio pode beneficiar alguns setores específicos, mas, para o Brasil como um todo, é prejudicial. Ao importar produtos acabados, contribuímos para a destruição de nossa já fragilizada indústria.

A Raiz do Problema

Mas como chegamos a essa situação? A história remonta aos anos 40, quando Getúlio Vargas iniciou a industrialização tardia do Brasil e estabeleceu o Estado de Bem-Estar Social. Antes disso, éramos essencialmente uma nação agrária. A partir de então, nossa relação com o setor agropecuário parece ter se fortalecido, talvez em um reflexo de nosso passado colonial, quando dependíamos das importações europeias para produtos manufaturados.

Essa política de Bem-Estar Social atingiu seu auge durante o regime militar e começou a declinar com a redemocratização. Dividindo esse processo em três fases, podemos entender melhor sua evolução:

1ª. Industrialização e Bem-Estar Social: Getúlio Vargas lidera um movimento de industrialização e cria o Estado de Bem-Estar Social.

2ª. Auge da Intervenção Estatal: Durante o regime militar, o Estado intervém fortemente na economia, sustentando o desenvolvimento industrial.

3ª. Redemocratização e Neoliberalismo: Com a redemocratização, o Brasil enfrenta uma crise de dívida, inflação alta e a introdução do Consenso de Washington, ou neoliberalismo, que propõe um Estado mínimo e a abertura econômica.

O Neoliberalismo e a Desindustrialização

O neoliberalismo defendia que o Brasil deveria focar nas áreas em que possuía vantagens comparativas. Na prática, isso resultou na abertura do mercado brasileiro e no início de um processo de desindustrialização. Comprávamos carros, computadores, perfumes e tecnologia, enquanto vendíamos commodities ao mundo.

Enquanto isso, a China, que em 1978 havia aberto sua economia, avançava rapidamente. Entre 1990 e 2009, período em que o Brasil enfrentava crises políticas e econômicas severas, como o congelamento de ativos e a queda de seu primeiro presidente eleito diretamente, a China se consolidava como uma potência industrial global.

No governo FHC, o processo de abertura econômica foi acelerado, com a privatização de importantes indústrias. Esse movimento agravou ainda mais a crise industrial, e empresas brasileiras, como a montadora Gurgel, começaram a perder espaço para concorrentes internacionais, muitas das quais recebiam apoio estatal em seus países de origem.

O setor eletrônico também foi fortemente impactado. Empresas como a CCE, que produzia eletrônicos mais acessíveis, e a Gradiente, conhecida por seus produtos de maior qualidade, foram forçadas a fechar, cedendo espaço para grandes corporações estrangeiras. O setor de eletrodomésticos seguiu a mesma tendência, com muitas empresas sendo vendidas a grupos internacionais.

O Resultado de Décadas de Neoliberalismo

O impacto desse longo processo foi devastador para a indústria brasileira. Embora o país tivesse uma industrialização tardia, ela ainda era competitiva, apesar da falta de apoio governamental. Contudo, a combinação de políticas neoliberais e abandono estatal fez com que essa indústria definhasse ao longo dos anos.

Qual o Caminho para o Futuro?

Uma resposta simplista seria apostar todas as fichas na educação, mas acredito que essa não seja a única solução. O Brasil precisa de um projeto de nação com uma visão de longo prazo, focada nos próximos 30 anos.

Mudanças nas leis trabalhistas podem ser necessárias para proporcionar maior segurança jurídica aos empregadores. Além disso, devemos pensar em incentivos fiscais para novas empresas e na participação direta do governo na compra de produtos nacionais. Os Estados Unidos, por exemplo, utilizam essa estratégia em setores-chave de sua economia.

A educação, claro, também terá um papel importante nesse processo. No entanto, é preciso mudar a forma como os recursos são alocados. O Estado deve continuar investindo em pesquisa universitária, mas seu foco principal deve estar no ensino fundamental. Além disso, é necessário incentivar o ensino de matérias exatas, oferecendo bolsas e reconhecimento para alunos que se destacarem em áreas como engenharia, física e matemática.

Não se faz uma grande nação distribuindo auxílios governamentais, vendendo serviços ou comodities. Uma nação forte tem sua estrutura solidificada na indústria e nas ciências exatas.