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Durante décadas, a China foi a grande promessa do século XXI. De nação agrícola e empobrecida, tornou-se a segunda maior economia do mundo, retirou centenas de milhões da pobreza e assustou o Ocidente com seu ritmo de crescimento. Mas o que antes era motivo de admiração global, agora começa a soar como um alerta.

Esse avanço foi resultado de uma revolução industrial acelerada, movida a planejamento estatal e subsídios massivos.

Em 1988, segundo o Banco Mundial, o Produto Interno Bruto (PIB) da China era de US$ 312 bilhões — praticamente igual ao do Brasil, que somava US$ 305 bilhões. Trinta e seis anos depois, em 2024, a China atingiu um PIB de US$ 18 trilhões. Mas a pergunta que se impõe é: os dias de glória estão chegando ao fim?

Grande parte desse crescimento foi sustentado por uma malha produtiva ampla, financiada por crédito estatal e pela aposta em setores estratégicos como tecnologia e construção civil. E é justamente aí que reside o problema.

A construção civil, responsável por cerca de 30% do PIB chinês, entrou em colapso. O país hoje possui milhares de unidades habitacionais prontas, mas jamais habitadas — verdadeiras cidades-fantasma. A falência da gigante Evergrande, com uma dívida superior a US$ 300 bilhões, e o colapso iminente da Country Garden acendem alertas sobre a sustentabilidade desse modelo.

O baque do setor imobiliário também impactou a indústria pesada e a siderurgia. Diversas fábricas vêm sendo fechadas, especialmente em regiões que antes pulsavam com obras e produção. E, ao contrário do passado recente, falta algo fundamental: consumo.

A população chinesa consome menos, seja por insegurança econômica, seja por mudanças geracionais. Jovens desempregados, famílias endividadas e uma sociedade mais cautelosa colocam um freio no motor interno do crescimento. Soma-se a isso o acelerado envelhecimento da população, reflexo direto da política do filho único — que gera hoje um país com mais avós do que netos.

Além disso, mesmo nas regiões mais desenvolvidas, como Xangai e Pequim, os salários continuam baixos para os padrões globais: cerca de R$ 2.012 e R$ 1.648, respectivamente. Isso limita o poder de compra da classe média e revela a fragilidade estrutural do consumo doméstico.

Além dos problemas internos, o ambiente internacional também se tornou mais hostil para o gigante asiático. A pandemia de 2020 expôs a dependência global da cadeia produtiva chinesa, levando diversos países a redesenharem suas estratégias. Estados Unidos, Europa e até nações emergentes começaram a adotar políticas de reindustrialização e “desglobalização seletiva”, buscando produzir localmente aquilo que antes era comprado da China.

Como se não bastasse, em 2025 Donald Trump assumiu presidência dos EUA e trouxe um novo pacote tarifário agressivo sobre produtos chineses, atingindo setores-chave como veículos elétricos e semicondutores. O tarifaço atinge em cheio a competitividade da China e simboliza o declínio de sua influência econômica no mundo.

O mercado já percebeu. Em 3 de abril de 2025, a agência Fitch Ratings rebaixou a nota de crédito da China de “A+” para “A”, com perspectiva estável. O motivo? Aumento da dívida pública e dúvidas sobre a saúde das finanças do país. Um sinal claro de que os tempos de glória chineses podem estar ficando para trás.

O que se vê hoje é uma China com baixa produtividade, pouca confiança do consumidor, excesso de oferta e demanda estagnada. Um país ainda gigante, mas adoecido.

Josué Coimbra – Economista registrado no Corecon-SP sob o número 38061, Delegado Regional do Corecon-SP Capital Centro, membro do Fórum de Tecnologia e Inteligência Artificial, articulista e coordenador do projeto Economia no Centro, voltado à disseminação de conhecimento econômico com foco em políticas públicas, desenvolvimento e mercado financeiro.