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Ao fazer o balanço da Gestão 2025, presidente do Corecon-SP, Odilon Guedes, destaca as importantes ações e os avanços alcançados ao longo do ano, ao mesmo tempo em que manifesta preocupação com a manutenção de juros elevados, os desafios da inflação e a forte concentração de renda no Brasil. 

À frente do maior Conselho Regional de Economia do país, com cerca de 15 mil economistas registrados, o presidente do Corecon-SP, Odilon Guedes, avalia o balanço da gestão, destaca a ampliação da presença institucional no interior paulista, o fortalecimento do papel do economista na sociedade e faz duras críticas à atual política de juros no Brasil. Nesta entrevista pingue-pongue, Odilon também aborda desigualdade social, inflação, desenvolvimento econômico e as perspectivas para 2026. 

O Corecon-SP possui uma composição de conselheiros diversificados. O que o senhor destacaria desse processo? 

O Conselho de São Paulo é o maior do Brasil e tem uma composição extremamente positiva. Reúne economistas do mercado financeiro, do mercado de capitais, de sindicatos, universidades como USP, FGV, PUC e Unicamp, além de entidades como a Fiesp. Essa diversidade permite um amplo debate, com visões diferentes, o que é muito saudável para a categoria e para a sociedade. 

Em que fundamentos se baseia a atuação do Conselho? 

Nossa ação se baseia na Lei 1.451, que organiza a profissão, no juramento dos economistas ao se formarem e no artigo 3º da Constituição Federal, que estabelece como um dos objetivos da República a redução das desigualdades sociais. Com base nisso, projetamos o Conselho para promover debates relevantes e contribuir com o desenvolvimento do país. 

Como o Corecon-SP atuou na defesa e ampliação do mercado de trabalho do economista? 

 Fizemos um trabalho intenso de valorização da categoria. Visitei mais de 20 cidades do estado, dialogando com prefeitos, câmaras municipais, OAB, associações comerciais, sindicatos e sociedade civil, mostrando a importância do economista tanto no setor público quanto no privado. 

Essa estratégia contribuiu para a interiorização do Conselho? 

Sem dúvida. Interiorizamos o Corecon-SP de forma permanente, com a nomeação de cerca de 130 delegados regionais. O Conselho passou a estar presente no interior, dialogando com diversos setores locais. A imprensa teve um papel fundamental nesse processo, ajudando a ampliar a visibilidade institucional. 

 Um dos destaques foi a campanha Orçamento Público e Transparência Popular. Como ela avançou? 

A campanha foi ampliada e já resultou na aprovação de leis municipais que determinam a divulgação do orçamento de forma simplificada, sem perda de conteúdo. Em várias cidades, o projeto está em debate nas câmaras municipais e, em outras, o diálogo com a sociedade já está em andamento. Inclusive, lançamos essa campanha em João Pessoa, na Paraíba. 

E a presença do Conselho na mídia? 

Tivemos mais de mil inserções em veículos de comunicação, como televisão e outros meios. Isso aumentou muito a visibilidade do Corecon-SP e teve um reflexo direto: batemos o recorde histórico de registros, com cerca de 450 novos economistas só neste ano. Isso mostra que a categoria está reconhecendo o trabalho que estamos realizando. 

Quais ações foram desenvolvidas na área de formação profissional? 

Firmamos convênios com universidades e com o Conselho Federal de Economia e lançamos a plataforma de educação continuada, com cursos como econometria e inteligência artificial, a plataforma de indicadores econômicos, fundamentais para preparar o economista para um mercado de trabalho cada vez mais competitivo. 

O Conselho também produziu conteúdo técnico relevante, correto? 

Sim. Elaboramos dez artigos de alta qualidade sobre diversos temas econômicos e lançamos uma revista que será enviada a universidades, conselhos regionais, lideranças nacionais, ao Conselho Federal e ficará disponível para leitura de todos os economistas. Defendemos que o Brasil precisa de um projeto consistente de desenvolvimento econômico e social. 

O Corecon-SP dialogou com importantes instituições do país. Como foi esse processo? 

Visitamos e dialogamos com as diretorias do Banco Central, da Fiesp, da Febraban, da Associação Comercial de São Paulo, do Dieese, entre outras entidades. Discutimos temas centrais, como a taxa de juros, a meta de inflação e os desafios da economia brasileira, sempre com o objetivo de contribuir para soluções estruturais e para a elaboração de um plano nacional de desenvolvimento. 

Qual é hoje a sua principal preocupação com a conjuntura econômica? 

A alta taxa de juros. O juro nominal está em torno de 15% e o juro real supera 10%. Não há economia que se sustente com esse nível. Isso inibe investimentos, reduz o consumo e aumenta a dívida pública. Só neste ano, o governo deve pagar cerca de um trilhão de reais em juros — mais do que os orçamentos da Educação, Saúde, Bolsa Família e BPC somados. 

Mas a inflação não está em queda? 

Sim, a inflação está diminuindo, como indicam os dados, e pode inclusive ficar abaixo do teto da meta de 4,5%. Eu acredito, nesse quadro, que é um equívoco insistir em uma meta de 3%. Isso porque a inflação brasileira possui características próprias. Uma delas é a variação cambial, pois o câmbio varia muito e isso influencia os preços internos. Outra é o preço das commodities no mercado internacional. Um exemplo disso foi o preço do café no ano passado, que aumentou muito no mercado internacional e influenciou a inflação no país. Outra questão a ser levada em consideração ainda é a crise climática. Nós temos secas prolongadas e enchentes severas que impactam o preço dos alimentos. E, como nós não temos estoques reguladores, os preços são afetados. E, finalmente, a indexação da economia exerce uma influência importante sobre os preços. Diante disso tudo, eu penso que a meta de inflação de 4,5% seria extremamente positiva, não alteraria em grande parte e refletiria a realidade da inflação brasileira. 

Como o senhor avalia a desigualdade no Brasil? 

Os dados do Relatório Global da Desigualdade, coordenado por Thomas Piketty, revelam a gravidade da concentração de renda e riqueza no Brasil, hoje o quinto país mais desigual do mundo. Enquanto os 10% mais ricos concentram 59,1% da renda nacional, os 50% mais pobres ficam com apenas 9,3%. A desigualdade é ainda mais acentuada quando se observa a concentração da riqueza — que inclui ativos financeiros, imóveis e aplicações —, área em que o Brasil ocupa a sexta posição mundial: os 10% do topo detêm cerca de 70% de toda a riqueza, e o 1% mais rico concentra mais de um terço desse total.  

Em termos simples, se o país tivesse 100 habitantes e 100 pães, apenas 10 ficariam com 59 pães, enquanto as 50 pessoas mais pobres dividiriam somente 9 pães; e, no recorte da concentração da riqueza, seria como se uma única pessoa consumisse em média 33 pães, deixando os outros 99 com o restante. 

Quais são as perspectivas para a economia em 2026? 

A taxa de juros deve começar a cair, pois a inflação está diminuindo e sob controle. A queda dos juros deve estimular os investimentos, o consumo e reduzir o peso da dívida pública. Por sua vez, o emprego deve continuar baixo devido a esses fatores. O Produto Interno Bruto (PIB) deve manter um crescimento moderado, semelhante ao de 2025. Uma questão importante a ser destacada é que será um ano difícil devido às eleições para presidente da República e governadores de Estado. 

Que mensagem final o senhor deixa sobre o trabalho do Corecon-SP? 

Todas essas realizações foram possíveis por causa do trabalho coletivo dos conselheiros, delegados e funcionários do Conselho. Foi uma construção conjunta, comprometida com a categoria e com a sociedade brasileira, sempre com o objetivo de contribuir para um país mais justo e desenvolvido.