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Assim como a nossa vida, o mercado financeiro é um mundo de altos e baixos constantes.

Nada nunca é exatamente como vemos no noticiário. É preciso ter uma espécie de “bola de cristal” para desvendar os caminhos do dinheiro.

Foi assim quando as ações da Petrobras chegaram a valer R$ 4,00, no auge da crise do governo Dilma.

Além dos escândalos políticos internos envolvendo a empresa, havia uma queda no preço do barril de petróleo no mercado internacional, o que acabou sendo decisivo para a desvalorização das ações aqui no Brasil.

No entanto, a pressão que derrubou o preço do petróleo passou, e o mercado voltou a respirar.

Hoje, vivemos à sombra do caso Americanas. Sem entrar no mérito das questões fiscais, embora elas afetem significativamente o preço do ativo, quero focar nas questões referentes ao setor varejista.

Você deve se lembrar que, em novembro de 2020, as ações da Magazine Luiza atingiram seu auge, cotadas a R$ 272,30.

Posteriormente, houve um desdobramento de ações, uma prática comum no mercado, na qual uma ação é dividida em várias, reduzindo o preço de cada uma para aumentar sua liquidez. Entretanto, após isso, ocorreu uma mudança que já vinha se delineando lentamente, mas se acentuou no período pós-pandemia.

O caso das Americanas é semelhante. O setor varejista viveu seu auge, com AMER3 valorizando-se 900% entre 2017 e 2020, ano em que a cotação chegou a R$ 122,90.

Essa valorização tanto na Magazine Luiza quanto nas Lojas Americanas começou em 2016, quando o consumidor passou a ter um maior poder de compra.

Essa melhora na economia refletiu-se no Ibovespa, que em 2016 estava na região dos 50.000 pontos, superando a barreira dos 110.000 pontos em 2020.

O crescimento do varejo foi alimentado por esse aumento do poder aquisitivo do brasileiro. No entanto, com a posterior queda no poder de compra dos consumidores, o processo inflacionário e o aperto monetário, houve um aumento da inadimplência, impactando fortemente o setor.

Além disso, é importante lembrar que, ao longo da pandemia, houve uma mudança significativa nos hábitos de consumo. Antes, os consumidores frequentavam as lojas físicas para fazer suas compras. Após 2020, entretanto, houve uma grande migração para compras online, especialmente em sites chineses, que oferecem os mesmos produtos com preços muito mais baixos, inclusive quando comparados aos sites nacionais.

Essas mudanças vieram acompanhadas de uma reestruturação econômica, em que muitas empresas precisaram demitir funcionários por motivos diversos: falências, reestruturações internas, entre outros.

Dois fatores tornam essa recuperação particularmente incerta:

1. Desafios inerentes ao setor: O varejo tradicionalmente lida com margens de lucro reduzidas, forte concorrência, sensibilidade às oscilações econômicas e uma dependência dos ciclos de consumo. Com taxas de juros elevadas, a viabilidade de crédito e parcelamentos — um pilar central para o consumo — fica comprometida, o que impacta diretamente as vendas.

2. Mudanças estruturais no mercado: O varejo global está passando por uma transformação estrutural. A tendência é que as lojas físicas passem a funcionar mais como centros de “experiências”, em vez de serem meros pontos de venda. Essa mudança requer investimentos pesados em tecnologia e na adaptação ao novo comportamento do consumidor, o que nem todas as empresas conseguirão acompanhar.

O cenário do varejo brasileiro reflete tanto as pressões macroeconômicas quanto as profundas transformações nos hábitos de consumo e na estrutura do mercado. Embora empresas como Magazine Luiza e Americanas tenham experimentado um crescimento robusto nos últimos anos, impulsionadas por um ciclo de alta no poder de compra, o contexto atual, marcado pela inflação, aumento da inadimplência e migração para o comércio eletrônico global, desafia o futuro do setor.

A recuperação do varejo depende, em grande parte, da capacidade das empresas de se adaptarem às novas demandas do consumidor e às pressões econômicas. Com as lojas físicas se transformando em ambientes de experiências e o e-commerce dominando as vendas, o varejo, como conhecemos, nunca mais será o mesmo.

Seja qual for o futuro, uma coisa é certa: as transformações em curso irão definir os vencedores e os perdedores dessa nova era do varejo.