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Na palestra magna do 28º SINCE, economista abordou o tempo da natureza, a infraestrutura para mitigar as mudanças climáticas e a janela de oportunidades para o Brasil com a transição energética
Estes foram os temas abordados pelo economista Gesner Oliveira na palestra magna do 28º Simpósio Nacional dos Conselhos de Economia, nesta quarta-feira (16) em Balneário Camboriú (SC). Sua fala pode ser assistida clicando AQUI.
“O tempo da natureza é ontem”, sublinhou Gesner ao iniciar sua fala mostrando imagens de inundações em diversos lugares. Ele também mencionou que em 2050 cerca de 40% da população mundial viverá em áreas com forte estresse hídrico. “No entanto, o tempo da economia é mais lento e o da política é imprevisível.
O tempo da economia exige gradualismo e o da política mais ainda. Não estamos caminhando necessariamente para processos mais eficientes ou mais baratos, e precisamos encontrar alternativas que não necessariamente são as mais baratas. Para vários países, o mais barato é o carvão; para outros, o petróleo”, comentou. Ele ainda mencionou a importância dos organismos multilaterais, mas afirmou que neles a decisão é lenta, difícil e por consenso. “Envolve um passivo dividido, mas a natureza tem pressa”.
Gesner também apontou que o desenvolvimento integrado da infraestrutura pode ser um motor para conquistar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável propostos pela Organização das Nações Unidas. “Na quase totalidade das 169 metas está um esforço de melhoria da infraestrutura”, aponta o economista.
“No Brasil ainda não estamos dando a devida atenção à água de reúso. Ela pode ser usada em escala muito maior”, explicou, mencionando que em países como Austrália, China e Estados Unidos entre 10% a 15% da água utilizada é de reúso, enquanto no Brasil este percentual não passa de 1,5%.
“Em São Paulo tivemos uma seca muito severa, o sistema Cantareira ficou com um nível muito baixo de água. Se o polo petroquímico não tivesse água de reúso, iria parar, e o custo desta interrupção seria da ordem de meio bilhão de reais. Com mais reúso poderíamos atenuar o custo da seca sobre a soja e o milho”.
Gesner também abordou o conceito de cidades-esponja, que têm modernos sistemas de drenagem que conseguem simular o comportamento original das chuvas nos solos. Ele também apontou a necessidade de avançar no saneamento básico: “Estamos num momento de universalização da água e esgoto e temos duas vergonhas nacionais: mais de 30 milhões de brasileiros não têm água tratada e 100 milhões não têm serviço de esgotamento sanitário”.
Por fim, o economista se referiu ao momento econômico atual como uma janela de oportunidades para o Brasil. “A América do Sul é uma região que não ganhou um grande protagonismo no último século.
Agora as circunstâncias mundiais apontam para uma grande importância da região, devido à incerteza geopolítica, à instabilidade macroeconômica e uma nova configuração mundial”, vislumbra Gesner. “A economia brasileira vem tendo um crescimento modesto há três anos, e pode crescer mais.
Temos uma mudança em curso, que é a reforma tributária – que, conforme a regulamentação, ela pode ser boa ou ruim. Temos tradição de paz, posição multilateral, somos um grande produtor de alimentos dentro do cenário mundial e temos uma matriz energética limpa.
O Brasil é o 12º país no ranking de transição energética”. E terminou com um apelo: “não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”.