Nos últimos dias estamos assistindo os principais espectros políticos falando em soberania e liberdade.
Liberdade individual é o direito de o cidadão satisfazer seus desejos de forma autônoma.
De acordo com Jean Bodin (1530–1596), a soberania é o poder absoluto e perpétuo de um Estado-Nação.
Mas como podemos gozar da liberdade plena com uma taxa de juros em 15% ao ano?
Qual a relação entre juros e liberdade? Toda! O crédito fica mais caro — e, com isso, tudo o que consumimos sofre elevação nos preços.
Sim, entendo que a elevação na Selic é um remédio para controlar a inflação. No entanto, existem outros remédios possíveis que também preservam o desenvolvimento nacional.
Vivemos num mundo globalizado, é verdade. Mas, se o Brasil tivesse uma política séria de armazenamento de grãos, por exemplo, os efeitos da alta de preços no mercado externo chegariam aqui com menor impacto.
Qual é a liberdade de um pai de família que sustenta sua casa com R$ 3.200,00 — a renda média brasileira, segundo o IBGE?
Hoje, uma nota de R$ 100,00 tem poder de compra equivalente a apenas R$ 13,00 em 1994. Isso é reflexo da desvalorização do real e da inflação acumulada nas últimas décadas.
Liberdade não é só votar, falar o que pensa ou ter direito de ir e vir. Para termos liberdade real, é preciso que o liberto possa decidir seu próprio destino — o que exige renda, crédito acessível e oportunidades concretas.
Enquanto não mudarmos a política de juros altos, seguiremos transferindo renda para o rentismo, que paralisa a capacidade produtiva do país.
E enquanto isso, perdemos nossa liberdade real — escondida atrás de discursos de ocasião.
A soberania nacional começou a ruir quando iniciamos a abertura do mercado interno nos anos 1980.
Segundo a Confederação Nacional da Indústria, a participação do setor industrial no PIB brasileiro recuou 23,3 pontos percentuais de 1985 a 2024 — de 48% para 24,7%.
Entre as causas: uma política tributária caótica e uma política monetária contracionista, que minam a competitividade e aprofundam a desindustrialização.
Enquanto a indústria perdia espaço, a taxa Selic manteve, entre 1994 e 2024, uma média de 13,83% ao ano, segundo o Trading Economics.
Com máxima em 45% em 1999 e o mínimo de 2% em 2020. Uma política monetária desse tipo encarece investimentos e desestimula a produção.
Minha pergunta: ao longo dos últimos 40 anos, criamos um país soberano — ou um paraíso para o rentismo?
E enquanto a indústria recuava, a renda concentrava-se. Mesmo com programas de transferência de renda como o Bolsa Família, que têm impacto positivo no comércio e na proteção social, seu efeito estrutural sobre o crescimento é limitado.
Isso porque é destinado, sobretudo, ao consumo básico — não à produção ou à qualificação da força de trabalho.
Um país soberano tem uma indústria forte, produz tecnologia e conta com um mercado interno robusto.
O Brasil tem um mercado interno numeroso, mas que patina por causa da baixa renda da população. Ou seja, o potencial existe — o que falta é vontade política para ativá-lo com políticas industriais, educacionais e de crédito produtivo.
Se queremos recuperar nossa soberania, precisamos reindustrializar com inteligência, promover uma reforma tributária que estimule a produção e adotar uma política monetária voltada ao crescimento.
A soberania nacional não se constrói apenas com bandeiras nas ruas. Ela se conquista com juros baixos, indústria forte, tecnologia nacional, e um povo que tenha liberdade de consumir, empreender e sonhar.
