Mais uma vez, o Brasil retorna da Europa sem avanços no tão aguardado acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. As tratativas se arrastam há mais de 20 anos, com promessas de parceria econômica, mas pouca disposição política real por parte do bloco europeu.
O presidente francês Emmanuel Macron declarou recentemente: “Este acordo, nesse momento estratégico, é bom para muitos setores grandes, mas comporta um risco para os agricultores europeus.”
Oficialmente, o temor gira em torno de padrões sanitários e ambientais. Extraoficialmente, o receio é outro: o Brasil oferece um produto melhor e mais barato.
O Brasil é competitivo. Tem terra fértil, clima favorável, custo de produção mais baixo e tecnologia de ponta — especialmente com o apoio da Embrapa. Isso assusta.
Segundo o Instituto de Pesquisa em Economia da Universidade de Wageningen, da Holanda, o custo do quilo do frango vivo em 2022 foi de R$ 5,29 no Brasil, contra R$ 6,72 na Alemanha.
Na suinocultura, dados da rede InterPIG (que reúne 17 países produtores e tem no Brasil a representação da Embrapa) mostram que, em 2022, o custo por quilo vivo em Santa Catarina foi de US$ 1,28, contra US$ 1,66 na Espanha.
A diferença de custos expõe o pano de fundo do debate: proteção de mercado disfarçada de defesa ambiental.
A União Europeia subsidia fortemente seu agronegócio por meio da Política Agrícola Comum (PAC), que em 2023 consumiu quase 30% do orçamento do bloco, segundo dados da European Commission.
No Brasil, o Plano Safra cumpre seu papel, mas está longe da escala e do impacto da PAC. Nossa vantagem comparativa vem do solo, do clima, da mão de obra e, sobretudo, da eficiência tecnológica nacional.
O medo europeu não é ambiental — é econômico.