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“Não há como ir para o trabalho e deixar o coração em casa.” 

Essa frase me marcou profundamente. Ouvi de um líder e, na época, confesso: duvidei. Eu acreditava que era possível separar as esferas da vida. Por anos eu deixei ou ao menos achava que deixava o coração em casa ao ir trabalhar… Meu primeiro emprego foi em 1990 e naquela época era natural existir o “eu profissional” e o “eu pessoal”.  

No entanto, meu líder era certo: Não há como ir para o trabalho e deixar o coração em casa. Ou em outras palavras, não basta fechar a porta de casa e deixar os problemas do lado de fora. 

E foi assim que a experiência me ensinou que somos um só. Não existe um “eu profissional” saudável se o “eu pessoal” está em sofrimento. E isso vale, sobretudo, para a saúde financeira. 

O dia em que a realidade bateu à porta 

Na minha última atuação como Head Administrativo Financeira, vivi uma situação que mudou minha forma de olhar o papel das empresas no bem-estar das pessoas. 

Comecei a ouvir de diferentes líderes da organização as mesmas queixas:
“Fulano mudou, não entrega mais como antes.”
“Beltrano está desmotivado.”
“Ciclano, que era tão engajado, parece querer ser demitido.” 

Eram profissionais que antes eram referência em desempenho. O que havia acontecido? 

Ao investigar, descobri um padrão: o endividamento severo. Eram colaboradores com seus salários praticamente comprometidos por empréstimos consignados e outros descontos. O contracheque chegava ao final do mês zerado, e a angústia era visível: na postura, no olhar, no comportamento. 

Ali, entendi de forma definitiva que não há como deixar o coração em casa! Somos únicos! A saúde financeira é parte da saúde emocional e da saúde organizacional. E mais: empresas que ignoram isso pagam um preço alto, ainda que ele nem sempre apareça nos balanços contábeis. 

 

O impacto invisível do estresse financeiro 

Quando uma pessoa está financeiramente adoecida, isso não fica confinado ao extrato bancário. 

Os efeitos são silenciosos, mas devastadores: 

  • Queda na produtividade 
  • Aumento do absenteísmo e do presenteísmo (pessoa presente fisicamente, mas distante emocionalmente) 
  • Adoecimento mental (ansiedade, depressão, estresse crônico) 
  • Conflitos interpessoais 
  • Maior rotatividade e custos com desligamentos 

 

Estudos reforçam isso. Pesquisas da Tilburg University (2022) mostraram que pessoas sob forte estresse financeiro têm até quatro vezes mais chances de desenvolver quadros de depressão e ansiedade. No Brasil, o Instituto Locomotiva aponta que cerca de 70% dos trabalhadores afirmam que problemas financeiros impactam seu rendimento no trabalho. 

Por que saúde financeira deve ser pauta das empresas? 

Economia é, sobretudo, sobre pessoas. 

Essa frase, que carrego comigo, resume o que aprendi na prática. Empresas são feitas de pessoas. E organizações saudáveis são aquelas que entendem que o bem-estar financeiro não é um tema “particular”, mas sim uma questão estratégica. 

Quando o tema é negligenciado, o custo aparece: seja no clima, nos indicadores de saúde, na produtividade ou nos resultados. 

Por outro lado, quando a empresa abraça o tema com responsabilidade, os ganhos são claros:
Maior engajamento e retenção de talentos
Redução do estresse e do absenteísmo
Ambiente de trabalho mais saudável
Contribuição para uma sociedade mais equilibrada 

O que as empresas podem fazer na prática? 

Cuidar da saúde financeira dos colaboradores não significa invadir a vida pessoal. Significa oferecer caminhos e ferramentas para apoiar.  

Compartilho algumas ações possíveis: 

Programas de educação financeira:
Oficinas, palestras e mentorias que orientem sobre orçamento, uso do crédito, renegociação de dívidas e planejamento financeiro. 

Incentivo ao crédito consciente:
Apoiar políticas que evitem o uso indiscriminado de consignados e orientar sobre os impactos no longo prazo. 

Integração entre áreas:
Criar canais de diálogo entre o RH, saúde ocupacional e financeiro para identificar sinais de alerta e oferecer apoio. 

Espaços de escuta:
Promover rodas de conversa, atendimento psicológico e jurídico que contemplem questões financeiras. 

Salários e benefícios justos e transparentes: mais do que o valor, o impacto no equilíbrio financeiro 

Quando falamos em saúde financeira no ambiente de trabalho, a maioria das pessoas imaginam que a solução está apenas em aumentar os salários. Mas minha experiência me mostrou algo importante: saúde financeira não é só ter mais dinheiro, é também saber gerir melhor os recursos disponíveis. 

Ao longo da minha trajetória, vi pessoas com salários de R$ 3.000,00 extremamente endividadas, e outras com salários de R$ 30.000,00 na mesma situação. Da mesma forma, vi profissionais com rendas modestas alcançarem equilíbrio financeiro e qualidade de vida porque souberam organizar suas finanças. 

Também acompanhei casos de ascensão profissional: colaboradores que começaram como estagiários, reclamando da remuneração, e que, mesmo ao chegar ao cargo de gerente, continuavam insatisfeitos e desequilibrados financeiramente. 

Por isso, salários e benefícios justos e transparentes são fundamentais, mas não bastam por si só. 

Salário justo é a base. Saúde financeira é o caminho que se constrói com informação, consciência e apoio. 

Somos um só: o chamado ao novo olhar 

Hoje, concordo plenamente com meu líder: não há como ir para o trabalho e deixar o coração em casa! Não existe profissional saudável se o bolso adoece. 

Por isso, saúde financeira precisa ser tratada como parte do cuidado integral ao ser humano no ambiente de trabalho. Não é custo. É investimento no maior ativo que uma organização pode ter: as suas pessoas. CPNJ tem personalidade jurídica, mas quem lhe dá vida, corpo, alma e coração são as pessoas. OU seja, um CNPJ é uma coletânea de CPF’s! 

Um convite ao diálogo 

Se você acredita, como eu, que o futuro do trabalho passa por ambientes mais humanos, inclusivos e saudáveis, é preciso entender que saúde financeira no trabalho é um tema que precisa estar no centro da estratégia. 

Sobre mim 

Sou Dirlene Silva, a mãe da Joana, a filha da Vera e irmã da Marcia e da Marta. Sou conhecida como a Filha da Lixeira que se tornou referência em educação financeira. Transformei minha história, marcada por desafios financeiros e sociais em um propósito: Desmistificar economia e finanças, apoiando pessoas e organizações na construção de relações mais saudáveis com o dinheiro. 

Sou economista, mestre em Gestão e Negócios pela Université de Poitiers/França e Unisinos/Brasil, MBA Finanças Corporativas e Valor das Organizações, MBA Gestão de Pessoas e Pós-MBA em Inteligência Emocional. Possuo formações em Coach Financeiro, Coach Gestão das Emoções e em Governança Corporativa pelo Instituto Conselheira 101, IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa e Board Academy. 

Atuei por mais de mais 25 anos como executiva nas áreas de Finanças e Gestão Estratégica em Empresas. Hoje sou multicarreira: Fundadora e CEO na DS Estratégias de Educação e Inteligência Financeira, palestrante, colunista, professora nas escolas de negócios, consultora associada da Korn Ferry e embaixadora no Clube Mulheres de Negócios em Língua Portuguesa – CMNLP. 

Sou conselheira na ONG ARTIGO 19, CENPEC e no Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da Presidência da República, o qual integro a comissão de Assuntos econômicos. Participo da Estratégia Nacional de Educação Financeira e sou membro do IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, integrando as comissões: Diversidade e Governança do Futuro. 

PRINCIPAIS RECONHECIMENTOS: Linkedin Top Voices&creator, eleita umas das 50 pessoas mais criativas do Brasil, segundo a Revista Wired, troféu Business Woman pela The Norns Awards. Fui reconhecida uma das 10 Mulheres que revolucionaram o universo das finanças pelo Banco PAN e uma das 20 maiores Influencers do LinkedIn pelo Ibest em 2023 e 2024. Integra a Comunidade Forbes BLK. 

Acesse o site: https://dirlenesilva.com.br/ 

REFERÊNCIAS 

Instituto Locomotiva. RaioX dos Brasileiros em Situação de Inadimplência. Disponível em: https://materiais.mfmtecnologia.com.br/lp-ebook-raio-x-da-pessoa-em-situacao-de-inadimplencia-no-brasil-2023 

Meu Bolso em dia. Saúde financeira: as razões mais importantes que irão melhorar sua vida. Disponível em: https://meubolsoemdia.com.br/Materias/saude-financeira 

Valor Investe. Endividados têm 4 vezes mais chances de ter depressão e 8 vezes mais de não dormir bem. Disponível em: https://valorinveste.globo.com/objetivo/organize-as-contas/noticia/2019/05/21/endividados-tem-4-vezes-mais-chances-de-ter-depressao-e-8-vezes-mais-de-nao-dormir-bem.ghtml