Que as Bolsas de Valores funcionam como um termômetro econômico — e, muitas vezes, político — de um país, já é consenso. No entanto, tendemos a ignorar esse termômetro quando o líder em questão se alinha às nossas preferências ideológicas. Só lembramos dele quando a febre já está alta demais para ser ignorada.
Na semana passada, Donald Trump voltou a influenciar diretamente a política internacional. Em mais uma investida com viés protecionista, o ex-presidente propôs medidas para reindustrializar os Estados Unidos e reduzir o déficit comercial com outras nações, punindo países que, em sua visão, impõem tarifas desleais ao produto americano.
O resultado foi imediato: os mercados reagiram negativamente, e as Bolsas apresentaram quedas significativas.
Enquanto escrevo este artigo, os índices estão em queda livre mundo afora.
O Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, declarou que mais de 50 nações iniciaram negociações com os EUA desde o anúncio feito na última quarta-feira.
No domingo, o presidente de Taiwan, Lai Ching-te, propôs tarifas zeradas como ponto de partida para as conversas com os americanos. Ele se comprometeu a eliminar barreiras comerciais e afirmou que as empresas de Taiwan planejam aumentar seus investimentos nos Estados Unidos.
A Zona do Euro, até o momento, não apresentou nenhuma contraproposta e ainda estuda os próximos passos, enquanto a China prometeu retaliações à altura.
Que temos uma guerra comercial, é fato! Mas será que as Bolsas caíram “do nada” ao longo da pré-abertura?
Euro Stoxx
Quando analisamos o Euro Stoxx, o índice testou a região dos 5.500 pontos e desde então não demonstrou força para seguir subindo — sendo essa a mesma máxima registrada em 1999.
Em 2000, os países da zona do euro representavam quase 20% da economia mundial. Com a virada do século, o velho continente perdeu protagonismo na nova ordem global e cresceu apenas 1,27% ao ano — ritmo inferior ao crescimento médio mundial de 2,97% no mesmo período.
O mercado comum europeu, representando pelo Euro poderia ter se consolidado como uma alternativa de peso frente ao dólar acabou se enfraquecendo diante de políticas equivocadas, como a queda na natalidade e o abandono de sua indústria em favor de um modelo neoliberal dependente de serviços entre outras políticas econômicas.
Nikkei 225
Em 2024, o índice japonês testou sua máxima histórica em 42.000 pontos e, no mesmo ano, recuou para 31.000 — patamar em que se encontra nesta madrugada.
O Japão, que já foi a segunda maior economia do mundo, enfrenta desafios similares aos da Europa. Segundo o FMI, em 2024, o país era a quarta maior economia global. A expectativa é que a Índia tome esse posto nos próximos anos, impulsionada pelo tamanho de seu mercado consumidor.
O leitor percebe que o problema não é só Trump ou uma “fala solta”, mas sim um acúmulo de desequilíbrios não resolvidos por grandes economias?
E quando observamos a análise técnica, fica subentendido que existe algo estranho no ar, pois os mercados testam alguns patamares e perdem força para continuar subindo, e começam a andar de lado ou recuar.
Ouro
Enquanto o mundo entra em modo de aversão ao risco, o ouro se valoriza e busca novas máximas, reforçando seu papel de porto seguro.
Ibovespa
Nosso termômetro nacional também vem dando sinais: testou a máxima histórica em 135 mil pontos, mas não conseguiu rompê-la. Isso mostra que, apesar do apetite de risco global em determinados momentos, o Brasil também tem suas pendências — e anda esquecendo de fazer a lição de casa.
Não dá para esperar uma solução mágica nesta semana — como Trump voltando atrás e dizendo: “era só um blefe”. O que se desenha é a necessidade de uma reorganização econômica global. A Zona do Euro, por exemplo, precisa realinhar suas políticas e encontrar espaço na nova ordem mundial.
Mas não é só o Ocidente. A China também enfrenta seus próprios dilemas, como a crise de liquidez exposta no caso Evergrande.
O que fazer?
Momentos de crise são, frequentemente, os melhores para identificar boas oportunidades. Quem tem uma leitura macro do mercado e entende o cenário está mais preparado para realizar compras inteligentes e até expandir seu portfólio.