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Para que uma economia alcance um crescimento sustentável, é essencial que desenvolva o que chamamos de sofisticação econômica. Esse conceito vai além do simples crescimento quantitativo do PIB; trata-se da transformação qualitativa da economia, estimulada por inovação, investimentos estratégicos e uma educação de qualidade que impulsiona a produtividade e a competitividade. No entanto, atingir esse nível de sofisticação não é um processo linear. Exige uma combinação de fatores econômicos, sociais e políticos que devem operar em conjunto.

Entre os pilares fundamentais para a sofisticação econômica, destacam-se três fatores recorrentes nos exemplos de sucesso global:

A. Taxa de juros favorável

Uma taxa de juros elevada desincentiva o investimento na economia real, direcionando o capital para o mercado financeiro. Isso ocorre porque, com os juros altos, o retorno sobre ativos financeiros tende a ser mais atrativo do que o investimento direto em empresas e indústrias. Para que uma economia possa se sofisticar e sustentar um crescimento duradouro, é necessário um ambiente de juros baixos, que incentive o fluxo de capitais para setores produtivos. Esse cenário favorece a geração de empregos, a expansão de negócios e a inovação.

B. Consumo interno e endividamento controlado

O consumo doméstico é a base de uma economia dinâmica e sustentável. Segundo o Serasa, mais de 72,4 milhões de pessoas estão negativadas, o que significa que 30% da população está com o crédito restrito. Isso limita severamente o poder de compra e enfraquece a demanda interna.

Conforme a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 78% das famílias brasileiras estão endividadas. Quando olhamos para a pirâmide de renda, ou seja, famílias com até três salários mínimos, 81% possuem dívidas.

Esses números nos trazem um alerta: o Brasil é um país majoritariamente pobre. E, sem um consumo robusto, a economia tende a estagnar, pois a produção excede a demanda, levando a um ciclo de retração. Iniciativas como o programa Desenrola Brasil e a Lei 14.181, voltada para o superendividamento, são tentativas do governo de reverter esse cenário, permitindo que as famílias retomem seu poder de compra. Um consumo interno saudável é um dos pilares mais importantes para o desenvolvimento sustentável da economia.

C. Excedente de capitais internacionais

A história econômica demonstra que nações que souberam atrair e gerenciar fluxos de capital estrangeiro conseguiram acelerar seus processos de desenvolvimento e sofisticação econômica. O Japão, após a Segunda Guerra Mundial, é um exemplo paradigmático. Beneficiou-se de grandes volumes de capital norte-americano, que ajudaram a financiar sua reconstrução e expansão industrial. Na década de 1990, os chamados tigres asiáticos (Coreia do Sul, Taiwan, Singapura e Hong Kong) também aproveitaram o capital estrangeiro para modernizar suas economias, especialmente em áreas como tecnologia e manufatura de alta qualidade.

O Caso da China

A China seguiu um caminho igualmente singular, embora com características próprias. Ao longo das últimas décadas, a China recebeu um volume significativo de capital estrangeiro, em grande parte dos Estados Unidos, tanto por meio de investimentos financeiros diretos quanto pela instalação de multinacionais no país. No entanto, a chave para o sucesso chinês não foi apenas a atração de capital, mas a execução de um projeto de desenvolvimento nacional de longo prazo, apoiado em três pilares fundamentais:

Educação: A China fez investimentos estratégicos e massivos em educação, não apenas na formação de uma mão de obra qualificada, mas também no desenvolvimento de uma base científica e tecnológica robusta. Esse investimento na capacitação humana foi o primeiro passo para criar uma economia inovadora e competitiva globalmente.

Indústria: Inicialmente, a China concentrou-se na manufatura de baixo custo, mas, ao longo do tempo, direcionou seu foco para setores de alta tecnologia e produtos com maior valor agregado. Hoje, o país é líder em diversas indústrias de ponta, como eletrônicos, energia renovável e inteligência artificial.

Planejamento de longo prazo: Diferente de muitas economias que adotam políticas cíclicas e de curto prazo, a China se destacou pela continuidade de suas políticas econômicas, baseadas em uma visão de longo prazo. Esse planejamento estratégico garantiu a implementação de reformas estruturais essenciais, mesmo em períodos de instabilidade global.

E o Brasil?

O Brasil, em diferentes momentos de sua história, também teve acesso a capital externo e apoio internacional, especialmente durante o governo de Getúlio Vargas, com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), financiada por um empréstimo dos Estados Unidos. No governo Juscelino Kubitschek, a entrada de montadoras estrangeiras impulsionou a industrialização. Durante o regime militar, o Brasil também recebeu empréstimos internacionais, que contribuíram para o crescimento de setores estratégicos.

Então, o que deu errado? Por que o Brasil não avançou no mesmo ritmo que o Japão ou a China? A resposta está na falta de uma estratégia de longo prazo. Enquanto o Japão e a China seguiram modelos de desenvolvimento planejados, o Brasil falhou em implementar um tripé de educação, indústria e planejamento consistente, que é crucial para sustentar a sofisticação econômica.

Conclusão

A sofisticação econômica é um objetivo ambicioso, mas perfeitamente alcançável, desde que existam políticas integradas e de longo prazo. Não se trata de depender de uma única variável, mas de promover a convergência de fatores como uma taxa de juros adequada, um consumo interno fortalecido e a capacidade de atrair e direcionar capitais internacionais para setores produtivos. O Brasil, assim como outras nações em desenvolvimento, pode aprender valiosas lições do Japão, dos tigres asiáticos e, especialmente, da China.

O futuro econômico do Brasil e de qualquer país depende de investimentos em educação, planejamento estratégico e a criação de um ambiente propício ao crescimento produtivo. A sofisticação econômica, mais do que um destino, é o caminho para um crescimento sustentável, inovador e inclusivo.