Como Merkel Afundou a Alemanha: O Que o Brasil Precisa Evitar
No ano de 1900, a Alemanha tornou-se a maior economia da Europa Continental e a terceira maior do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da Inglaterra — seus maiores rivais econômicos.
Após duas guerras mundiais, a Alemanha estava destruída, mas o processo de reconstrução já se mostrava essencial. A tecnologia já fazia parte de seu DNA. Embora a Inglaterra seja reconhecida como o berço da Revolução Industrial, foi a Alemanha quem se consolidou como a matriarca da indústria pesada. Além disso, a nação ganhou destaque por sua excelência nas indústrias automobilística e química, tornando-se um símbolo mundial de inovação e qualidade.
Tudo caminhava bem no “reino alemão”, até a chegada de Angela Merkel, que governou por mais de uma década. Seu reinado, que inicialmente parecia promissor, trouxe lições importantes — inclusive para o Brasil. Afinal, a Alemanha de hoje já não é mais a mesma dos anos 1990, e é crucial entender os erros cometidos para não repeti-los.
1. Dependência Energética da Rússia
Merkel promoveu a expansão do gasoduto Nord Stream 2, aumentando consideravelmente a dependência da Alemanha em relação ao gás russo. Essa política, que inicialmente parecia estratégica, acabou gerando uma vulnerabilidade significativa, especialmente após a invasão da Ucrânia.
Se o objetivo era buscar uma matriz energética mais limpa e sustentável, por que não investir em energia nuclear? Embora o fantasma de Chernobyl ainda paire sobre as decisões políticas, é importante lembrar que o desastre nuclear foi causado por erros de gestão e negligência, e não por uma falha intrínseca da tecnologia nuclear.
No Brasil, temos assistido à privatização de setores estratégicos da energia, o que pode prejudicar a independência do país. Privatizar a Petrobras, por exemplo, é um tema controverso, especialmente quando se considera o papel fundamental da energia para a soberania nacional. A recente venda da Sabesp, que estava em boas condições financeiras, também pode ser vista como uma decisão precipitada, considerando que a água, no futuro, será uma das principais fontes de poder e influência mundial.
2. Política de Imigração e a Crise dos Refugiados (2015)
A decisão de Merkel de abrir as portas da Alemanha para centenas de milhares de refugiados sírios gerou tensões sociais e políticas internas. A falta de um planejamento adequado para a integração dos refugiados levou a problemas de infraestrutura e aumento de conflitos sociais.
O Brasil enfrenta um problema semelhante: a falta de planejamento estratégico. Aqui, os políticos muitas vezes se concentram no período eleitoral, mas raramente consideram as necessidades a longo prazo. Por exemplo, o Brasil possui uma vasta malha hidroviária, mas ainda depende em grande parte de rodovias para escoar sua produção. O país também mantém o maior parque industrial da América Latina, mas tem se especializado na produção de commodities e serviços, abrindo mão de sua indústria.
3. Política Econômica e Estagnação da Inovação
Embora a Alemanha tenha experimentado estabilidade econômica durante o governo de Merkel, a falta de investimentos significativos em inovação e modernização da indústria prejudicou sua competitividade, especialmente diante da ascensão da China.
Um exemplo claro disso foi a indústria automobilística alemã. Tradicionalmente reconhecida pela excelência de seus carros, o setor viu-se diante do desafio da transição para veículos elétricos. Merkel optou por apostar nesse modelo, que é amplamente dominado por empresas chinesas, enquanto a Alemanha, tradicionalmente líder na indústria automotiva, perdeu o terreno que dominava.
Algo semelhante acontece no Brasil, onde setores como a agricultura têm sido politicamente demonizados, apesar de sua importância estratégica. O setor agropecuário não se resume apenas à produção de soja ou cana-de-açúcar; ele envolve uma série de outros segmentos, incluindo tecnologia, e o Brasil se destaca globalmente através da Embrapa, uma referência mundial em inovação agrícola.
4. Austeridade Excessiva na Zona do Euro
Merkel liderou a política de austeridade imposta a países como Grécia, Espanha e Portugal durante a crise da dívida soberana. Embora essa abordagem tenha contribuído para a estabilização do euro, ela causou sérias consequências sociais e econômicas nos países afetados.
A austeridade severa resultou em aumento do desemprego, empobrecimento de grandes segmentos da população e deterioração da qualidade de vida em diversas nações da zona do euro. Para o Brasil, isso serve como uma lição importante. A obsessão pelo equilíbrio fiscal, sem considerar o impacto social, pode levar a retrocessos econômicos e a uma instabilidade política ainda maior. Em um país com enorme potencial para se tornar uma potência industrial, mas que optou por se especializar na produção de commodities, o crescimento sustentável ainda é um desafio. Com uma renda média de apenas R$ 3.326,00, o Brasil realmente está em crescimento ou estamos apenas trocando a indústria por uma dependência de produtos primários?
5. O Desafio da Queda na Taxa de Natalidade
Ainda há outra questão importante que precisa ser revertida: a queda na taxa de natalidade. Este não é um problema exclusivamente alemão, mas mundial. A China, por exemplo, voltou a incentivar o aumento do número de famílias após perceber os efeitos negativos de sua política de filho único.
No caso da Alemanha, a situação é preocupante. Em 2023, sua taxa de natalidade foi de apenas 1,35 filhos por mulher — um número extremamente baixo, mesmo para os padrões da Organização das Nações Unidas (ONU). A consequência desse declínio é o envelhecimento acelerado da população, o que traz desafios como a pressão sobre os sistemas de previdência e saúde, além da escassez de mão de obra.
No Brasil, o cenário também é alarmante. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país registrou a quarta queda consecutiva no número de nascidos vivos em 2022, com 2,54 milhões de nascimentos — uma redução de 3,5% em relação a 2021. Se continuarmos nesse ritmo, podemos nos tornar um país predominantemente idoso, enfrentando desafios semelhantes aos que o Japão encara há décadas.
Esse fenômeno acende um alerta para a formulação de políticas públicas que incentivem a natalidade e garantam suporte para famílias que desejam ter filhos. Caso contrário, o impacto no mercado de trabalho e na sustentabilidade da previdência pode ser devastador.
Excelente conteúdo para ficarmos por dentro do q acontece no nosso país e outros, muito bom