O Brasil iniciou 2025 com um novo ciclo de alta da taxa Selic, elevando os juros para 13,25% ao ano. A decisão do Banco Central, sob a presidência de Gabriel Galípolo, reflete uma preocupação crescente com a inflação persistente, que já acumula 4,5% nos últimos 12 meses. No entanto, a medida também levanta questionamentos sobre seu impacto na economia real, especialmente no consumo, no crédito e no crescimento do país.
Inflação Fora de Controle?
O principal argumento para o aumento da Selic é a necessidade de conter a inflação, que tem se mostrado resistente mesmo após um período de alívio em 2024. O avanço nos preços de alimentos, energia e serviços preocupa o mercado, indicando que o Banco Central pode ter sido excessivamente otimista ao reduzir os juros no ano passado.
A lógica da política monetária é simples: juros mais altos encarecem o crédito, desestimulam o consumo e reduzem a demanda, o que, em tese, alivia a pressão sobre os preços. O problema é que essa estratégia tem efeitos colaterais que vão além do controle da inflação.
Impacto no Consumo e no Crédito
Com juros mais altos, o acesso ao crédito fica mais caro e restrito, afetando diretamente setores dependentes de financiamento, como o imobiliário e o automotivo. Muitas famílias e empresas, já pressionadas pelo endividamento acumulado nos últimos anos, podem encontrar dificuldades para honrar compromissos, elevando os índices de inadimplência.
Além disso, a decisão do Banco Central pode frustrar as expectativas de crescimento da economia. O setor produtivo, especialmente as pequenas e médias empresas, tende a sofrer com o encarecimento dos financiamentos, reduzindo investimentos e contratações.
Brasil e Rússia: Os Campeões dos Juros Reais
O Brasil segue figurando entre os países com as maiores taxas de juros reais do mundo. Atualmente, apenas a Argentina mantém juros mais elevados que os brasileiros. No entanto, a Rússia vem se destacando como um dos países com as taxas reais mais altas, devido às sanções econômicas e às dificuldades financeiras geradas pela guerra na Ucrânia.
Com a escalada da inflação e a desvalorização do rublo, o Banco Central da Rússia elevou sua taxa básica para além dos 16% ao ano, garantindo uma taxa de juros real elevada. O cenário russo reforça como políticas monetárias restritivas podem ser usadas para atrair capital estrangeiro e estabilizar a economia, mas também como podem desacelerar o crescimento interno.
Essa comparação coloca o Brasil em um dilema semelhante: manter juros altos para garantir a estabilidade monetária ou buscar alternativas para estimular a economia sem comprometer o controle inflacionário.
O Peso da Credibilidade Fiscal
Outro fator que pressiona a alta dos juros no Brasil é a deterioração da credibilidade fiscal. O governo federal tem aumentado os gastos públicos sem apresentar medidas concretas de equilíbrio orçamentário, o que gera insegurança nos investidores.
Quando o mercado percebe um risco crescente de descontrole fiscal, a percepção de risco-país aumenta, resultando em uma fuga de capitais e na desvalorização do real. Para conter essa pressão cambial e evitar uma disparada ainda maior da inflação, o Banco Central eleva a taxa Selic, tentando tornar os ativos brasileiros mais atrativos para o investidor estrangeiro.
Ou seja, não é apenas a inflação que impulsiona os juros para cima, mas também a falta de confiança na condução econômica do governo. Se o país tivesse um arcabouço fiscal sólido e previsível, a necessidade de juros elevados seria menor, pois os investidores não exigiriam um prêmio de risco tão alto para manter recursos no Brasil.
O Que Esperar para 2025?
A sinalização do Copom indica que novas altas na Selic podem ocorrer ao longo do ano, caso a inflação não dê trégua e o governo não sinalize maior compromisso com o equilíbrio fiscal. O mercado já projeta que os juros podem chegar a 15% ainda em 2025, tornando o crédito ainda mais escasso e freando o crescimento do país.
O dilema entre controlar a inflação e estimular a economia continua sendo o maior desafio da política econômica brasileira. A grande questão é: estamos combatendo a inflação de forma eficaz ou apenas sufocando a atividade econômica sem atacar suas causas estruturais?
A resposta virá nos próximos meses, mas uma coisa é certa: 2025 promete ser mais um ano de desafios para empresas, investidores e consumidores brasileiros.