Nas últimas semanas, declarações polêmicas atribuídas a Donald Trump, eleito novamente presidente dos Estados Unidos, reacenderam debates sobre a Doutrina Monroe e o papel dos EUA na geopolítica global. Referências à Groenlândia, ao Canadá e até ao Canal do Panamá revelam a persistência de uma estratégia que visa reafirmar a supremacia norte-americana no continente. Esses movimentos levantam questões sobre poder econômico, segurança nacional e o equilíbrio entre pragmatismo e hipocrisia na política internacional.
A Groenlândia como base estratégica
A Groenlândia, rica em minerais raros e estrategicamente localizada entre a América e a Europa, sempre despertou o interesse dos Estados Unidos. Em 2019, Trump manifestou o desejo de comprá-la, não apenas por simbolismo, mas por sua relevância estratégica. Com reservas de zinco, chumbo e urânio, a ilha é essencial para indústrias tecnológicas e armamentistas. Além disso, sua localização permitiria aos EUA reforçar a proteção do continente americano. Dentro da lógica da Doutrina Monroe, a anexação da Groenlândia seria um movimento coerente.
O Canadá: vizinho ou rival estratégico?
Embora improvável, a ideia de uma eventual incorporação do Canadá destaca tensões econômicas e políticas reais. Sob Justin Trudeau, o país tem adotado posturas mais alinhadas à Europa, desafiando a hegemonia americana. O Canadá, com suas vastas reservas de petróleo, gás e metais preciosos, é um parceiro indispensável para os EUA, mas também um competidor estratégico em recursos naturais.
Brasil e a hipocrisia global
As ambições expansionistas não se limitam ao hemisfério norte. O Brasil, com sua biodiversidade e riqueza mineral, enfrenta pressões internacionais sobre a Amazônia. Sob o pretexto de preservação ambiental, líderes globais frequentemente sugerem a “internacionalização” da floresta, enquanto protegem seus próprios interesses econômicos, sobretudo no agronegócio europeu, menos competitivo que o brasileiro. Esse duplo padrão evidencia a hipocrisia de potências que condenam ações expansionistas enquanto buscam controle indireto sobre territórios estratégicos.
Trump, china e a diplomacia Europeu-Cêntrica
A política externa de Trump, por mais agressiva que pareça, reflete práticas comuns de outras potências, como a China e a União Europeia. A China expande sua influência com investimentos em infraestrutura na África e na América Latina, enquanto a Europa mantém laços de controle indireto em antigas colônias. O uso do Franco CFA em países africanos, por exemplo, ainda vincula suas economias à França. Trump, no entanto, rompe com o discurso diplomático tradicional, expondo dinâmicas de poder que outras nações preferem mascarar.
Reflexões finais
As declarações de Trump, por mais exageradas que possam parecer, servem como ponto de partida para reflexões sobre a geopolítica contemporânea. Até que ponto a política expansionista de Trump difere das ações de outras potências? Seria a retórica explícita seu maior “pecado” ou sua disposição em desafiar a ordem global estabelecida?
Enquanto os EUA buscam reafirmar sua influência global, o Brasil deve proteger seus interesses estratégicos, evitando cair em discursos que mascaram ambições externas. Reconhecer e questionar essas dinâmicas é essencial para fortalecer sua posição em um cenário internacional marcado por contradições e disputas por poder.