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Nos últimos dias, o dólar apresentou uma valorização expressiva, rompendo a barreira psicológica de R$ 6,00, fazendo máxima histórica em R$ 6,11. Esse movimento reflete uma complexa combinação de fatores globais e domésticos, evidenciando os desafios da economia brasileira no contexto internacional.

Fatores Globais: Crises e Busca por Segurança

O mundo vive um período de instabilidade marcado por conflitos, tensões geopolíticas e incertezas econômicas. Esses fatores aumentam a busca por ativos considerados “portos seguros”, como o dólar e o ouro. Apenas em 2024, o ouro valorizou acima de 30%, enquanto o dólar acumulou alta de 24%, sinalizando um ambiente global de aversão ao risco.

Entre os principais fatores que impulsionam o dólar, destacam-se:

Repatriação de Lucros: Empresas multinacionais aproveitam o fim do ano para enviar lucros ao exterior, ou seja, para suas matrizes aumentando a demanda por dólar.

Tensões Geopolíticas: A escalada de conflitos, como a crise entre as Coreias e a guerra na Ucrânia, além de instabilidades na África e no Oriente Médio, reforça o fluxo de capitais para os Estados Unidos.

Síria

Ao longo final de semana tivemos a queda do ditador sírio Bashar Al-Assad. Ele foi um aliado estratégico da Rússia e do Irã. Sua queda pode enfraquecer a posição desses países na região e fortalecer a influência dos EUA. Isso pode criar um ambiente mais favorável ao dólar, dada a redução da influência de regimes adversários aos interesses ocidentais.

Lembre-se que a Rússia tinha muita força na Europa, sob a ditadura de Assad, pois seus dutos que levam gás a Europa, passam em solo Sírio. Ter boas relações com a Síria é estratégico para ambos os lados e quem conseguir atrair o novo governo terá muita força na região.

Levando-se em consideração o tamanho da economia Síria, acho pouco provável que esse novo capítulo em sua guerra civil tenha influência direta no dólar. A influência será no campo da diplomacia.

Fragilidade da Europa: Após décadas de estabilidade e bem-estar social, a União Europeia enfrenta desafios econômicos significativos.

Segundo números do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), em 2008, as economias dos países da União Europeia somavam US$ 16,2 trilhões, contra US$ 14,7 trilhões dos Estados Unidos.

Em 2023, o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA ficou em US$ 25,187 trilhões, enquanto a União Europeia fechou o ano em US$ 14 trilhões.

O Contexto Brasileiro: Armadilhas Domésticas

Internamente, o Brasil enfrenta dificuldades que pressionam ainda mais o câmbio. O mercado esperava um pacote fiscal robusto, mas o plano apresentado gerou desconfiança, com dúvidas sobre cortes de gastos e compromisso com o equilíbrio fiscal.

Essa fragilidade se reflete nas curvas de juros de longo prazo, que já ultrapassam 14% ao ano. A desconfiança do mercado, aliada ao risco político, contribui para a manutenção do dólar acima da barreira psicológica de R$ 6,00, com perspectiva de novos avanços caso não haja mudanças estruturais.

O Futuro do Dólar e as Lições para o Brasil

Há espaço para o dólar subir ainda mais, dependendo de fatores como:

Política Monetária do Federal Reserve: Caso os juros nos EUA permaneçam elevados, o dólar seguirá fortalecido.

Credibilidade Fiscal do Brasil: Avanços em reformas e compromisso com o ajuste fiscal podem conter a alta do dólar. Sem essas medidas, a moeda pode seguir fortalecida.

Cenário Internacional: A resolução de tensões geopolíticas e o comportamento de economias emergentes também influenciarão o câmbio.

O dólar é um termômetro da confiança na economia. Quanto mais rápido o Brasil adotar uma postura de disciplina fiscal e avançar em reformas estruturais, menor será o impacto negativo sobre o câmbio e a população, uma vez que o dólar forte, acaba gerando inflação. A valorização do dólar é um sinal de alerta, mas também um convite para que o país faça sua lição de casa.