Logo Corecon-SP

O Brasil é conhecido por sua elevada desigualdade social, e os números confirmam isso. Segundo o IBGE, o índice de Gini é 0,506. No México, é 0,371, conforme o relatório México Como Vamos. A media do Gini mundial é 0,379 e quanto mais próximo de zero, menor a desigualdade.

Essa desigualdade nasce da má distribuição de renda e da concentração de riqueza, sustentadas por um fator estrutural: a baixa produtividade da economia. E produtividade está diretamente ligada à qualidade da educação — outro gargalo nacional — e à desindustrialização acelerada, que nos torna cada vez mais dependentes de serviços e produtos externos.

O Brasil se tornou um produtor de commodities, não ignoro o agronegócio. O agronegócio tem papel relevante nas exportações, mas não é vetor de inclusão econômica nem de mobilidade social em larga escala. Produz PIB, mas não distribui prosperidade.

A renda média no agronegócio e na indústria varia bastante, mas, em geral, a indústria tende a oferecer salários um pouco maiores e exigir maior qualificação, especialmente em áreas técnicas e de gestão.

Na década de 1980, a indústria representava 48% do PIB. Hoje, caiu para 24%, segundo a CNI. E qual a consequência prática? Menos empregos formais, menos qualificação exigida, menor mobilidade social. Uma economia sem indústria é uma economia de baixa renda.

A educação é o retrato fiel da desigualdade social brasileira. No ranking TIMSS, entre 58 países, o Brasil aparece na 55ª posição no ensino básico. Ao mesmo tempo, figuramos entre os 10 países com mais universidades classificadas no CWUR. Ou seja: a elite tem acesso à excelência; a maioria, nem ao básico.

Esse abismo educacional alimenta a desigualdade. Quem não avança nos estudos permanece preso à baixa produtividade e à renda limitada. Segundo o IBGE, 60% das famílias brasileiras vivem com cerca de R$ 3.200 por mês. E aumentar o salário mínimo, sabemos, pressiona os gastos públicos.

Mas há caminhos. O governo poderia reduzir encargos sobre a folha de pagamento, principalmente em setores intensivos em mão de obra ou estratégicos como indústria, infraestrutura e tecnologia. Isso estimularia o emprego formal e aumentaria a renda disponível, gerando consumo interno.

Menos indústria significa mais informalidade, menos arrecadação e mais dependência de programas sociais que, embora importantes, são paliativos. Para resolver de verdade, é preciso crescer — e crescer com base produtiva.

Imagine um veículo zero quilômetro que custa R$ 150.000,00, 40% desse valor é imposto, nos Estados Unidos o mesmo carro tem um imposto de 7%. A maioria dos veículos no Brasil são financiados, e como nossa taxa Selic tem uma média histórica em 13%, ao adquirir um carro principalmente financiado pode se tornar mais punitivo ao consumidor. Segundo a última pesquisa sobre taxas de financiamento do Banco Central, a taxa média de juros no crédito para aquisição de veículos ficou em 28,6% em março. Esse veículo financiado em quatro anos, pode ter um valor final em R$ 240.417,58.

Quando baixarmos o imposto de um carro zero, automaticamente as concessionárias irão vender mais carro e teremos um efeito cascata na indústria, onde toda uma cadeia produtiva será acionada.

Gerando não só empregos, mas inovação tecnológica.

A carga tributária atual também aprofunda a desigualdade. Ao incidir sobre o consumo, penaliza os mais pobres, não lhes permitindo ter acesso a bens que trazem o mínimo de conforto. E a ideia de aumentar impostos sobre os mais ricos para “resolver tudo” é frágil: muitos mudam o domicílio fiscal, e o custo acaba repassado ao consumidor.

O Brasil não precisa apenas de mais arrecadação. Precisa de um plano. Um projeto nacional que una política educacional, desenvolvimento industrial e estímulo à produtividade. Sem isso, seguiremos assistindo a desigualdade como destino — e não como problema a ser superado.

Enquanto seguimos discutindo como taxar o dono da lancha ou do jatinho, punimos quem trabalha.

E excluímos cada vez mais os pobres da mesa do jantar.