O fortalecimento do dólar frente ao real não é apenas um reflexo de dinâmicas globais, mas um termômetro das incertezas econômicas internas e externas que desafiam o Brasil em 2024.
No início do ano, as projeções indicavam que o dólar encerraria dezembro em torno de R$ 5,55. No entanto, o cenário mudou. Atualmente, a moeda americana opera entre R$ 6,013 e R$ 6,07, com algumas análises apontando uma possível resistência em R$ 6,20.
A primeira barreira técnica na região de R$ 6,07 demonstra uma forte dificuldade para novos avanços da cotação.
Diante disso, surge uma questão: se o Banco Central optar por vender dólares de suas reservas para conter essa alta, qual seria o impacto?
A resposta mais óbvia seria que a intervenção ajudaria a segurar a escalada da cotação. No entanto, será que essa medida resolveria o problema de forma estrutural?
Embora uma intervenção pudesse reduzir temporariamente o dólar para algo em torno de R$ 5,95, o efeito seria artificial e de curto prazo. Atualmente, o Brasil possui a sexta maior reserva cambial do mundo, totalizando cerca de US$ 360 bilhões.
O Banco Central deve intervir no mercado cambial para conter o dólar? Sim, mas apenas em momentos de extrema volatilidade. Caso contrário, a medida pode gerar um efeito especulativo, com agentes financeiros apostando em novas altas, na expectativa de futuras intervenções governamentais.
Vale lembrar que o regime cambial brasileiro é de câmbio flutuante. Até o final do primeiro mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso, o sistema utilizado era o de bandas cambiais, no qual o Banco Central intervinha apenas quando o câmbio atingia limites previamente definidos.
Intervenções frequentes, entretanto, podem comprometer seriamente as reservas cambiais sem resolver problemas estruturais. Além disso, podem trazer novos desafios, como:
1. Inflação: A desvalorização do real eleva o custo das importações, pressionando os preços internos e corroendo o poder de compra da população.
2. Colapso Cambial: A redução das reservas cambiais prejudica a capacidade do país de defender sua moeda contra especulação, aumentando o risco de depreciação abrupta.
3. Default: Reservas são cruciais para honrar compromissos internacionais, como o pagamento de dívidas externas e importações essenciais. Sem elas, o Brasil pode enfrentar um calote, prejudicando sua reputação global.
4. Recessão e Desemprego: A combinação de inflação elevada e colapso cambial pode levar o Banco Central a aumentar drasticamente os juros, desestimulando investimentos e agravando o desemprego.
Esses riscos não são meramente teóricos. A história recente de países como a Turquia e o México oferece lições importantes.
Entre 2018 e 2021, a Turquia enfrentou graves crises cambiais devido a intervenções inadequadas e políticas monetárias mal planejadas. Mesmo gastando bilhões de dólares de suas reservas, a moeda turca não se estabilizou, resultando em inflação descontrolada e perda de confiança dos investidores.
Por outro lado, o México exemplifica como reservas cambiais robustas e intervenções pontuais, alinhadas a políticas fiscais e monetárias consistentes, podem preservar a estabilidade econômica.
Além disso, a responsabilidade fiscal é fundamental para evitar o aumento da percepção de risco. Investidores externos avaliam não apenas o saldo de reservas cambiais, mas também o comprometimento do governo em manter contas públicas equilibradas.
Diante desse cenário, o Brasil deve manter seu compromisso com a responsabilidade fiscal e com políticas econômicas previsíveis. Com uma das maiores reservas cambiais do mundo e um potencial econômico significativo, o país possui as ferramentas necessárias para enfrentar os desafios cambiais.
O equilíbrio entre intervenção pontual e medidas estruturais será o pilar para restaurar a confiança dos investidores, reduzir a volatilidade cambial e mitigar os impactos de crises externas. O caminho é árduo, mas possível.
Muito Bom !!!