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A taxa de juros está intimamente ligada à inflação. Quando a inflação começa a subir, a resposta usual para conter essa elevação é o aumento das taxas de juros.

Nesse contexto, os Estados Unidos desempenham um papel crucial. Considerados o mercado mais seguro e confiável do mundo, os EUA frequentemente servem como referência para outros mercados.

Na última reunião, o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, decidiu manter a taxa de juros inalterada, na faixa de 5,25% a 5,50% ao ano, em uma decisão unânime. A expectativa é que, na próxima reunião, em setembro, ocorra um corte de 0,25 ponto percentual. O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que a economia americana está se aproximando do momento em que será apropriado reduzir a taxa básica de juros, mas ainda não chegamos lá.

Com os juros norte-americanos elevados, a rentabilidade dos Treasuries (títulos públicos dos EUA) também aumenta, atraindo investidores que buscam melhor remuneração. Essa migração de capital impacta os mercados de ações e a cotação do dólar.

Diante desse cenário, somado a fatores internos como uma política fiscal duvidosa e um ambiente político conturbado, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa Selic em 10,5% ao ano.

Reflexos na Economia

Com a Selic em 10,5% ao ano, o Brasil se torna um ambiente incerto para a atração de investimentos de longo prazo, especialmente na indústria. Atualmente, o Brasil ocupa a terceira posição mundial em taxas de juros, atrás apenas da Turquia, que enfrenta uma corrosão inflacionária alarmante, e da Rússia, que lida com os impactos da guerra na Ucrânia. Em junho de 2024, a inflação na Turquia chegou a 71,60% em comparação ao mesmo mês do ano anterior, evidenciando a gravidade da situação.

Essa realidade torna o Brasil menos competitivo, não apenas em relação à Turquia, mas também em comparação com outros países da América Latina, como Argentina e México. A atual política monetária favorece os rentistas, pois a taxa de retorno no mercado financeiro é superior àquela na economia real.

No entanto, os números econômicos indicam um possível recuo na taxa Selic. Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, tem adotado uma postura técnica. Nos últimos três anos, a inflação medida pelo IPCA foi de 5,79% em 2022, 4,62% em 2023 e, até o momento, em 2024, a taxa acumulada é de 2,48%.

A taxa de desemprego apresentou queda em 2024, alcançando 6,9%, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), que registrou 101,8 milhões de trabalhadores. Embora esses números pareçam promissores, ainda temos 38% da População Economicamente Ativa (PEA) na informalidade, o que levanta a questão do que os mantém nesse mercado.

Por outro lado, uma notícia relativamente positiva é que a renda média do brasileiro está em torno de R$ 3.222,00, ou seja aproximadamente 200% abaixo do que o Dieese considera o mínimo para atender às necessidades básicas.

No cenário atual, a alta taxa de juros pode ser vista não como um remédio, mas como um veneno, alimentando um ciclo de incertezas e limitando o crescimento econômico sustentável. A pergunta que persiste é: até quando o Brasil irá sacrificar seu futuro econômico em nome de uma estabilidade ilusória?

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