Em 11 de dezembro de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic para 12,25% ao ano, alcançando um dos níveis mais altos desde 2016, quando a gestão Temer registrou uma Selic de 14,25% ao ano. Desde então, a taxa seguiu uma trajetória de queda, interrompida pela crise sanitária e econômica de 2020, que desencadeou pressões inflacionárias e a necessidade de ajustes monetários. Ao final da gestão Bolsonaro, a Selic estava em 9,25% ao ano, mas os desafios econômicos recentes levaram a novos aumentos.
Apesar da visão popular de que juros elevados favorecem banqueiros e especuladores, os dados contam outra história. Entre 1º de janeiro e 17 de dezembro de 2024, investidores estrangeiros retiraram R$ 32,4 bilhões da B3, desmontando a tese de que a alta dos juros atrai capital especulativo para o mercado de capitais brasileiro.
O Dólar e a fuga de capitais
Em janeiro de 2024, com a Selic em 11,25% ao ano, o dólar era cotado a R$ 4,95, refletindo um momento de maior estabilidade cambial. Contudo, ao longo do ano, a moeda americana voltou a se valorizar, atingindo máximas impulsionadas pela deterioração das contas públicas, a instabilidade política interna e os temores globais relacionados ao crescimento econômico.
Esse movimento contradiz a lógica tradicional de que juros altos fortalecem a moeda local. Apesar de a Selic elevada aumentar a atratividade dos títulos brasileiros, a percepção de risco em relação ao Brasil sobrepujou os benefícios. Fatores como a fragilidade fiscal, a baixa taxa de crescimento e incertezas sobre reformas estruturais afastaram os investidores estrangeiros, que buscaram mercados mais seguros, ainda que com retornos menores.
A alta do dólar impacta diretamente o mercado de capitais, pressionando os custos de importação e reduzindo a competitividade de empresas expostas ao câmbio. Isso cria um ciclo vicioso: a fuga de capital enfraquece o real, e o real desvalorizado afasta ainda mais o apetite por ativos brasileiros.
O papel da Selic na economia
A taxa Selic é uma ferramenta central na política monetária, utilizada para controlar a inflação. No entanto, o equilíbrio é delicado. Taxas muito altas, embora eficazes para conter a inflação, desestimulam o consumo e os investimentos produtivos, dificultando o crescimento econômico. Por outro lado, taxas muito baixas podem gerar bolhas especulativas e pressionar ainda mais os preços.
Em 2024, o Banco Central enfrentou um dilema: controlar a inflação sem comprometer ainda mais o crescimento. A decisão de elevar a Selic teve impacto direto na redução da atividade econômica, enquanto os efeitos sobre a inflação ainda são motivo de debate.
O que esperar de 2025?
O cenário para 2025 é desafiador. Analistas de mercado já precificam uma Selic próxima a 14,75% ao ano, com inflação projetada em 4,84%. O dólar, termômetro da economia nacional, enfrenta uma resistência importante na faixa de R$ 6,34, testada em 2024. Caso essa barreira seja rompida, a moeda americana pode buscar novos patamares em R$ 6,43, R$ 6,65, R$ 6,86 e até R$ 7,14, dependendo do desenrolar das políticas fiscais e da percepção de risco do país.
Adicionalmente, a posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, marcada para 20 de janeiro de 2025, adiciona uma camada de incerteza. Trump prometeu adotar uma postura mais rígida com países que não fazem parte de seu eixo de influência, e o Brasil se encontra nesse grupo. Medidas protecionistas ou retaliações econômicas podem intensificar as pressões cambiais e impactar ainda mais o fluxo de capitais.
A lição de 2024
Os eventos de 2024 deixam uma mensagem clara: juros elevados, por si só, não garantem a valorização do real nem um mercado de capitais aquecido. A confiança dos investidores depende de uma combinação de estabilidade fiscal, reformas econômicas e um ambiente político previsível. Sem essas condições, o Brasil continuará enfrentando a fuga de capitais, o aumento do dólar e os desafios de equilibrar crescimento com estabilidade econômica.
O Brasil tem capacidade de superar essas dificuldades, mas isso exigirá liderança, planejamento estratégico e medidas concretas que restabeleçam a confiança de investidores e empresários. O tempo, contudo, é um recurso escasso.
MB